2 mil na fila por uma córnea

Jornal Diário da Manhã, 21/06/2007

2 mil na fila por uma córnea

Wanda Oliveira
Da editoria de Cidades

Nilo Bueno

Maria de Santana Rocha, 80, est na fila por um transplante de crnea desde janeiro. Em Gois, 2.005 pacientes aguardam cirurgia

Maria de Santana Rocha, 80, está na fila por um transplante de córnea desde janeiro. Em Goiás, 2.005 pacientes aguardam cirurgia

Dois mil e cinco pacientes aguardam por um transplante de córnea em Goiás. A demanda não pára de crescer. A cada mês, em média, 100 novos indivíduos entram na disputa por um tecido. Destes, 50 a 60 se submetem à cirurgia, informa a Central de Transplantes do Estado. O acúmulo aumenta o tempo de espera na fila, que varia de cinco a oito meses. A maioria dos que lutam por um órgão é formada por adultos. Crianças e adolescentes têm prioridade na chamada lista única do banco de olhos.

Goiás ocupa o segundo lugar no ranking brasileiro como um dos maiores transplantadores de córnea do País. São Paulo lidera a lista. Mesmo em situação privilegiada, a demanda por um órgão ainda é bem maior do que a oferta em território goiano. Segundo Telma Noleto Rosa, coordenadora da Central de Transplantes do Estado, o acúmulo no número de pedidos por um tecido não zera, e sim, aumenta mensalmente. “Essa realidade é nacional e em Goiás não é diferente.” Ela diz que, atualmente, o transplante de córnea é o mais realizado no Brasil, apesar de o número de doadores ser bem menor do que o esperado.

A dona de casa Maria de Santana Rocha, 80, está na fila à espera de uma córnea desde janeiro. A dificuldade para enxergar foi causada por uma atrofia no olho direito. Ela conta que o problema surgiu meses depois de se submeter a uma cirurgia de catarata. Desde então, precisou usar lentes provisórias. “Perdi praticamente a visão do olho direito. Hoje, tudo que vejo é cinzento”, diz. Segundo dona Maria, o problema para enxergar agrava-se à noite por causa da claridade da luz, e no escuro a dificuldade é maior para andar sozinha. “A minha esperança é um transplante de córnea.”

A Fundação Banco de Olhos e o Centro de Referência em Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (Cerof) são os principais locais de atendimento em Goiânia. As unidades possuem estrutura adequada para a realização de cirurgias e transplantes de córnea. De acordo com Telma, a falta de doadores ainda é um problema grave. “A população doa, mas não responde à demanda,” afirma Telma. A coordenadora explica que a imensa fila por uma córnea em Goiás é gerada também por pacientes de outros Estados, principalmente das Regiões Norte e Nordeste, como Pará, Acre e Maranhão.

Ela informa que o tempo de espera é de cinco a oito meses e a fila tem duas mil e cinco pessoas inscritas, o que atrai cada vez mais pacientes aos bancos de olhos. Dados da Central de Transplantes de Goiás mostram que em 2005, 877 pacientes foram transplantados com córnea no Estado. No ano passado, o número chegou a 793. Até maio deste ano já eram 185 indivíduos. Para Telma, uma das vantagens para voltar a enxergar é que a cirurgia não necessita de compatibilidade genética. “Qualquer pessoa pode ser doadora, desde que não haja contra-indicação médica por causa de algumas doenças, como aids, hepatite, entre outras.”