Ecos do Enade
Ecos do Enade
Professor Helvécio Luiz Reis *
Para muitos, foi surpresa. Para mim, não foi. O desempenho dos alunos da UFSJ no Enade confirma o sentimento de que nossa Universidade é grande. As notas 5, em Administração, Ciências Biológicas, História, Letras, Matemática, Pedagogia e Psicologia revelam nosso estágio de maturidade e pujança. O curso de Psicologia é o quinto melhor do Brasil e o segundo de Minas Gerais. O curso de História é "o melhor do Brasil": assim fui apresentado ao presidente Lula. Administração e Letras registram essa marca desde que o método de avaliação era o Provão. Estes resultados colocam a UFSJ como a quinta melhor Universidade do Brasil.
É verdade que o Enade é apenas um indicador, e deve ser examinado com esse cuidado, mas não pode ser descontextualizado. Dentre as federais melhores nesse ranking, a UFSJ é inquestionavelmente a mais jovem e a menor. São 20 anos. Neste tempo, fomos extremamente ousados na qualificação de nossos docentes. Saímos de 3 doutores e 19 mestres em 139 professores para um quadro de 125 doutores e 78 mestres em 216 professores. Não há, hoje, quem diga que foi em vão o sacrifício para que nossos colegas pudessem se qualificar. Não é só a titulação, são 213 professores dedicação exclusiva contra 69 quando começamos em 1987.
Nossos professores não são "aulistas", dedicam-se ao ensino, à pesquisa e extensão, realizando projetos que comprovam a indissociabilidade dos três pilares da Universidade. Assumem o seu esperado protagonismo, a despeito das difíceis condições de trabalho, da remuneração não condizente com a qualificação e da sobrecarga causada pela não reposição de vagas docentes. O seu compromisso vem elevando, paulatinamente, a UFSJ a padrões acadêmicos reconhecidos nos fóruns de cada área de conhecimento e no mercado de trabalho.
O esforço docente se traduz no número de grupos e linhas de pesquisa, na captação de recursos junto a órgãos de fomento e no incremento da pós-graduação. A pós-graduação stricto sensu, hoje o maior desafio da UFSJ, avança nos dois mestrados em funcionamento, o multidisciplinar em Física, Química e Neurociências e o de Letras, e na formulação de novos programas, como os propostos à Capes em 2007: em Educação, Engenharia Elétrica, Engenharia da Energia (numa associação ampla com o Cefet-MG), Filosofia, História e Psicologia.
Nosso quadro de técnicos se desdobra e se supera, honrando o serviço público e sustentando um crescimento acadêmico que exige cada vez mais em infra-estrutura e apoio. São eles os que mais sofrem com a insuficiência de quadros e condições de vida e trabalho, com baixos salários, falta de perspectiva de carreira, não reconhecimento do nível superior e a falta de um plano de saúde. Por isso mesmo, são exemplos cristalinos de dedicação e da necessidade de investimentos nas Universidades. São responsáveis pelos sucessos da UFSJ e conquistaram um importante espaço, dirigindo duas pró-reitorias, de Administração e de Desenvolvimento e Gestão de Pessoas e, pela primeira vez na história da UFSJ, desenvolvemos um programa de capacitação, dotando-o com recursos do orçamento para o seu financiamento. É pouco, mas a ação é emblemática.
Nossos alunos são mais maduros, pela sua origem social e trajetórias de vida. A maioria deles é oriunda de escolas públicas, e muitos trabalham durante todo o dia e estudam à noite. Afinal, somos diferentes de nossas irmãs por oferecermos 70% de nossos cursos no turno da noite. Nosso alunado é comprometido, produtivo e criativo, ator principal do Enade e fundamental na construção da nossa Universidade. Somos muito melhores hoje do que éramos há 20 anos. Mas há ainda muito por fazer. Por tudo isso, a UFSJ se esforça em criar melhores condições para o seu pleno desenvolvimento acadêmico. Com investimentos em bibliotecas, laboratórios, estrutura física, informação e apoio aos estudantes, dos quais podemos indicar diversos exemplos.
Foi construída a nova biblioteca do campus Dom Bosco, de concepção moderna, e ampliou-se o investimento em livros. Nestes últimos dois anos: foram adquiridos cerca de 10% do acervo total da instituição, com a certeza absoluta de que o livro é matéria-prima fundamental para a produção do conhecimento.
Melhorou-se a infra-estrutura dos laboratórios de informática voltados ao de ensino, com a instalação de máquinas novas e criação de pequenos clusters que permitem multiplicar o número de equipamentos comprados. Há bem pouco tempo, funcionavam nesses laboratórios máquinas IBM instaladas ainda no final dos anos 90. Foram construídos novos laboratórios e outros existentes ganharam espaços muito melhores.
Há bem pouco tempo, o valor da bolsa atividade para alunos era de R$ 90 por mês, enquanto o salário mínimo era de R$ 300. Hoje, assegurou-se o pagamento de 50% do salário mínimo para essa bolsa de 20 horas de trabalho. Somando-se aos recursos destinados ao financiamento dessas bolsas, o que se investe em bolsas de monitoria, extensão, iniciação científica (que dobrou em quantidade nos dois últimos anos, estabelecendo uma relação invejável de uma bolsa por professor doutor), viagens de alunos para fins acadêmicos e de representação estudantil, financiamento de atividades das empresas juniores, e competições esportivas e atividades do movimento estudantil, a UFSJ tem reservado quase 15% do seu orçamento. Poderia ser mais, se o orçamento da Universidade fosse maior.
Antigos problemas de estrutura física são agora enfrentados, como a reforma de telhados e forros, a recuperação e remodelação de espaços subutilizados e a reforma dos banheiros do campus Dom Bosco. Quem as conhece hoje não pode imaginar como eram muitas dessas instalações há bem pouco. São necessidades tão básicas que, por vezes, passam despercebidas.
A Universidade Pública sofre com os que a querem destruir, em favor da privatização do Ensino Superior, e com os que pregam o seu imobilismo, abandonando-a diante das dificuldades. Os primeiros a querem matar, desqualificando-a; os segundos, arriscam exterminá-la fragilizando-a em seu papel social e em seu maior patrimônio: a qualidade acadêmica. O resultado do Enade, como outros indicadores, demonstra o contrário. As universidades públicas têm o melhor ensino de graduação, pela associação à sua pesquisa (90% da pesquisa do país), à sua extensão (responsável por melhorias na qualidade de vida e oportunidades de renda e emprego) e à sua também superior pós-graduação, apesar das condições precárias.
A Universidade Pública é pilar central do desenvolvimento brasileiro e deve ser fortalecida em seu papel e se expandir. Aliás, diante da onda de instituições privadas iniciada nos anos 90, fortalecer é expandir. Nesse horizonte, a consolidação da UFSJ como Universidade, avançando sempre na sua qualidade acadêmica, e a sua expansão, são uma real contribuição ao país. Ninguém vem a público para reconhecer isso, mas é preciso. Parabéns à comunidade universitária. Parabéns, UFSJ, por fazer a sua parte.
* Reitor da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ)