Periferia sofre mais
Periferia sofre mais
Elisângela Santos
Da editoria de Economia
Marco Monteiro
Luiz Gonzaga (Sindipão): queda de vendas já alcança 10%
Os pequenos comerciantes, com estabelecimentos na periferia de Goiânia, são os mais prejudicados pela crise financeira que afeta o Estado, que vem atrasando os repasses dos programas sociais e pagamento de fornecedores. A opinião é do presidente do Sindicato das Padarias do Estado de Goiás (Sindipão), Luiz Gonzaga de Almeida. Segundo ele, quem compra em comércios de pequeno porte o faz com dinheiro, provenientes de salários ou benefícios sociais. Quando os mesmos atrasam, o consumidor perde o poder de compra. “Quando recebem já estão com prestações de cartões em atraso e destinam a verba ganhada para saldá-las. Assim, não sobra dinheiro para gastos no comércio de pequeno porte”, justifica.
Luiz Gonzaga alega que ainda é na periferia que mora a maioria dos que recebem benefícios sociais por parte do governo do Estado, sem falar que também abriga muitos funcionários públicos. “O funcionalismo é o carro-chefe do nosso negócio”, frisa Luiz Gonzaga. Ele conta que desde que a crise financeira do Estado ficou em “evidência”, o volume de vendas no setor da panificação sofreu queda de 10%. O presidente do Sindipão acrescenta que há cerca de dez dias, em parceria com a Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Goiás (UFG), foram sorteadas 23 padarias para fazerem parte de projeto de boas práticas nutricionais. Após o sorteio, descobriu-se que sete destas haviam fechado. “É sinal de crise no setor”, comunica Luiz Gonzaga.
Insegurança – O economista e presidente da Associação Goiana da Indústria de Confecções (Agicon), Frederico Martins Evangelista, diz que o Estado é o indutor de investimentos. Segundo ele, não há como a crise financeira que afeta Goiás deixar de influenciar no comércio. “A população fica insegura para tomar a decisão da compra”, diz. Frederico comenta que em toda mudança de governo ocorre crises. Ele dá um conselho: “No ano que vem a eleição é para prefeito. Portanto, quem deve ter cautela com a crise que se aproximará são os funcionários municipais”, prevê.
Frederico comenta, ainda, que o setor de confecções em Goiás não é tão afetado pela crise, uma vez que 90% de suas vendas são para outros Estados. “Se dependêssemos muito daqui, seria complicado.” O presidente do Sindicato das Indústrias de Calçados do Estado de Goiás (Sindcalce), Flávio Ferraci, diz que o seu setor, em específico, vive um momento de crise afetado por uma série de fatores: carga tributária elevada, carência de financiamentos, alta taxa de juros bancários e a crise financeira vivida por Goiás. “Toda crise pode gerar outra. Movimentações comerciais em momentos difíceis da economia podem ser arriscadas. Não podemos descartar, até mesmo, demissões em massa.”
Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Estado de Goiás, Eurípedes Ferreira dos Santos, há uma somatória de fatores que afetam a queda que vem sendo observada no setor. Segundo ele, em datas especiais não tem se vendido tanto como em outros anos. Ele exemplifica: “As vendas para o Dia dos Namorados foram 5% menor do que o esperado”. Em sua opinião, os grandes vilões desta situação são a crise financeira do Estado e a crise no agronegócio.
Eurípedes diz que não cabe jogar a culpa em um administrador em específico. “Todos os governos – federal, estadual, municipal – assumem compromissos acima de suas capacidades orçamentárias. O resultado é o que se vê agora”, finaliza.