Procuram-se bons salários

Jornal Diário da Manhã, 08/07/2007

Procuram-se bons salários

Carolina Oliveira
Da editoria de Economia

Quase 50% dos profissionais ativos no Brasil desempenham mais de uma atividade no mercado de trabalho ou fazem hora extra para compensar a queda da renda. Pressionados pelo aumento dos gastos, mais de 32 milhões de trabalhadores cumprem jornada superior às 44 horas semanais previstas na Constituição, enquanto outros 4,2 milhões têm duas ou mais ocupações. A expansão das universidades contribui para que os filhos de pessoas que ganham até R$ 1,5 mil tenham acesso ao ensino superior. Com isso, os pobres passaram a disputar postos de trabalho antes dominados por membros de famílias com renda superior a R$ 2 mil. A oferta de mão-de-obra, no entanto, fez a remuneração cair.
Entre 1999 e 2005, o País criou 20,9 milhões de ocupações com remuneração inferior a dois salários mínimos – equivalente a R$ 760 hoje. Em contrapartida, fechou 5,5 milhões de postos que pagavam mais que isso. O saldo foi a abertura de 15,4 milhões de vagas de baixa remuneração. A pressão sobre o mercado de trabalho é crescente. Além do avanço do desemprego, que atingia 8,9 milhões de brasileiros em 2005, ante 7,6 milhões em 1999, também cresceu o número de pessoas que estavam empregadas mas procuravam outra ocupação. Passou de 5,6 milhões para 8,8 milhões, alta de 57% no período.
Os dados constam no levantamento realizado pelo professor Márcio Pochmann, do Centro de Estudos de Economia Sindical e do Trabalho, da Unicamp. Baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, o estudo constatou que entre 1999 e 2005 (último dado disponível), o contingente de brasileiros que exercem o chamado sobretrabalho saltou de 37,7 milhões para 42,8 milhões – aumento de 13,5%, equivalente ao acréscimo de 5,1 milhões de pessoas. Em 2005, existiam 87,1 milhões de ocupados em todo o País. “O crescimento anêmico da economia gera empregos de baixa remuneração, o que leva as pessoas a trabalharem mais para obterem uma renda satisfatória”, diz Pochmann.
Empresário do segmento de peças e serviços automotivos há 16 anos e do ramo imobiliário há dois, Alexandre Guimarães Rosa de Moura, 35, ainda se dedica ao curso de Direito, o qual irá concluir daqui a três anos. “Não dá para ficar estagnado em apenas uma profissão. A renda salarial não é suficiente”, argumenta.
Alexandre explica que irá unir o Direito ao segmento imobiliário, uma área ainda pouco explorada em Goiânia. Mas adianta que não vai deixar os negócios para trás. “O centro automotivo é o suporte que preciso. Se fosse trabalhar somente com o Direito não seria suficiente”, ressalta.