O que é ruim pode piorar

Jornal O Popular, 15/07/2007

O que é ruim pode piorar

Greve dos ortopedistas prejudica o atendimento no Hugo, que já padece com o problema da superlotação

Malu Longo

Os médicos ortopedistas do Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) iniciaram na manhã de ontem uma paralisação por tempo indeterminado. Como cerca de 60% do movimento do Hugo são de atendimentos ortopédicos, a expectativa é que nos próximos dias, caso a greve não termine, seja de superlotação em outras unidades, como no Centro de Referência em Ortopedia e Fisioterapia (Crof), no Setor Aeroviário, e nos Centros de Assistência Integral à Saúde (Cais) e Centros Integrados de Assistência Municipal da Saúde (Ciams) para onde, desde ontem, estão sendo encaminhados os casos não atendidos no Hugo. Apenas casos cirúrgicos e de fraturas expostas permanecem no hospital.

Os ortopedistas cobram da Secretaria Estadual de Saúde compromissos não cumpridos com a categoria, como a concessão de isonomia salarial, adicionais de insalubridade, noturno e de fim de semana, gratificação por produtividade, além de melhores condições de trabalho. Hoje os salários da categoria dentro do hospital oscilam entre R$ 1,2 mil a R$ 1,9 mil.

Acordo dos médicos com a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (Sbot), Conselho Regional de Medicina (CRM) e Sindicato dos Médicos do Estado de Goiás (Simego) prevê que a paralisação precisa ser “de corpo presente”, ou seja, mesmo paralisados os profissionais permanecem na unidade para orientar e encaminhar os pacientes. Ontem à tarde, três ortopedistas atendiam no Hugo, entre eles Flávio Kuroki. Ele explicou que os médicos fizeram duas assembléias com a presença do secretário Cairo Alberto, que prometeu aos 56 ortopedistas do Hugo que as reivindicações seriam atendidas. “Não temos mais confiança nele”, disse.

Segundo Flávio Kuroki, os adicionais de 20% reivindicados pela categoria depende de aprovação da Assembléia Legislativa, mas os deputados estão protelando a votação. “Não dá para entender porque um assunto desse, de interesse de toda a população, não é votado, mas o reajuste salarial deles, de 28%, eles aprovam na calada da noite”, afirmou.

Ontem à tarde o movimento no Hugo não era grande, mas no Crof, cujo atendimento é das 7 às 19 horas, o reflexo já podia ser sentido e havia apenas um médico de plantão. José Carlos da Silva, diretor da unidade, disse que somente no primeiro dia de paralisação, cinco pacientes com politraumatismo foram encaminhados pelo Hugo. Como o Crof não possui outros especialistas, como anestesistas, o paciente tem de ser reencaminhado para outra unidade através de Autorização de Internação Hospitalar (AIH).

Processos cirúrgicos também não são feitos no Crof. Um garoto, de 12 anos, que veio da cidade de Matrinchã, passou pelo Hugo, Hospital Geral de Goiânia e Hospital das Clínicas (HC) da UFG e foi parar no Crof sem atendimento. Com o braço imobilizado, ele foi novamente encaminhado ao Hugo por se tratar de caso cirúrgico.

O recepcionista Laécio da Silva, 21 anos, também enfrentou uma via-crúcis ontem depois de um acidente de moto no Setor Garavelo por volta de 16h30. Como a equipe do Samu já sabia da greve no Hugo, o rapaz foi levado para o HC, que não quis recebê-lo por causa da grande demanda de pacientes. Levado para o Crof, Laécio teve que voltar ao Hugo para ser submetido a um raio X na cabeça.

Auxiliar de expedição de uma indústria de tomate em Nerópolis, Leandro Pereira da Silva, 20 anos, sofreu um acidente de trabalho por volta de 14 horas e foi trazido para Goiânia. Passou pelo Hugo, HC, Crof e foi encaminhado para o Hospital Maria Auxiliadora.

Diretor do Hugo, Luciano Leão afirmou que greve é um direito de todo trabalhador, mas na área médica omissão de socorro tem implicações éticais e legais. “Espero que a categoria tenha consciência disso. Pretendo fazer com que o hospital sofra o mínimo de conseqüências com essa greve”. O médicos ortopedistas marcaram para segunda-feira à noite uma assembléia para discutir o movimento. Fora de Goiânia, o secretário Cairo Alberto não foi encontrado para falar sobre a paralisação.