Hospital sofre com Hugo parado

Jornal O Popular, 16/07/2007

Hospital sofre com Hugo parado

Estimativa é que no Centro de Referência e Ortopedia e Fisioterapia movimento foi 50% maior que o normal

Rosane Rodrigues da Cunha

A greve dos ortopedistas do Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) começou a se refletir em outras unidades da rede estadual de saúde. Ontem, a estimativa é de que o movimento do Centro de Referência e Ortopedia e Fisioterapia (Crof), no Setor Aeroviário, tenha crescido cerca de 50%. A unidade recebeu os casos considerados mais simples, como as fraturas fechadas, que também foram encaminhados a outras unidades credenciadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O Crof, que pertence à rede pública municipal de saúde, reforçou o estoque de materiais e redobrou a equipe de plantão para garantir o atendimento aos pacientes encaminhados pelo Hugo. A equipe plantonista, que conta normalmente com um médico e dois técnicos em gesso, trabalhou ontem com dois médicos e quatro técnicos.

A unidade, que funciona das 7 às 19 horas, atende de 80 a 110 pacientes por dia. A expectativa para ontem era de mais de 150 pacientes. “Estamos conseguindo atender a população”, disse o diretor-técnico José Carlos da Silva, cujo receio é que se a greve no Hugo se prolongar a unidade acabe superlotada, principalmente de pacientes que não conseguirem atendimento à noite, após o fechamento do Crof.

Esses casos não são raros. A dona de casa Maria de Fátima da Silva, por exemplo, veio sábado de São Luís de Montes Belos com a filha Thaís, de 9 anos, que foi encaminhada ao Hugo por um médico da cidade. Elas chegaram ao hospital às 18h30. O caso de Thaís não era de urgência, como ocorre com cerca 60% dos casos de pacientes que chegam ao Hugo, de acordo com o diretor-geral. Com um deslocamento no quadril, um problema que, segundo a mãe, se arrasta há dois meses, a garota foi encaminhada ao Crof.

Fechado
“Quando chegamos, o centro já estava fechado”, conta Maria de Fátima, que retornou com a filha para o interior e ontem pela manhã voltou ao Crof. A garota foi atendida e encaminhada para uma cirurgia no Hospital Geral de Goiânia (HGG). “Se aumentarem os casos de pacientes que ficam sem atendimento após as 19 horas e retornam no dia seguinte, podemos ter dificuldades”, diz o diretor-técnico do Crof. No Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Goiás (UFG), a manhã de ontem foi tranqüila. Dos 20 pacientes atendidos até as 10h30 no pronto-socorro, apenas 2 eram da área ortopédica.

O coordenado do plantão, Paulo Roberto do Prado, porém, não esconde sua preocupação com um possível impacto da paralisação dos ortopedistas do Hugo no HC. “Quando há greve em uma unidade a tendência é aumentar o número de pacientes em outras”, diz o médico. O futuro da greve dos ortopedistas também preocupa a diretoria do Hugo. Nos dois primeiros dias da paralisação, segundo o diretor-técnico Sebastião Abreu, o Hugo conseguiu contornar a situação e garantir o atendimento de urgência e emergência e o encaminhamento dos casos mais simples para outras unidades.

“Mas, nos próximos dias, podemos ter problemas com o aumento da demanda”, teme o diretor-técnico, que acha justas as reivindicações dos ortopedistas, mas considera a paralisação inoportuna, principalmente por ter sido deflagrada em um período de férias e em um fim de semana, quando o movimento no Hugo é maior. Os grevistas, de acordo com o ortopedista Flávio Kuroki, reivindicam o cumprimento do acordo firmado entre a Secretaria Estadual de Saúde (SES) e a categoria, que desde outubro vem reivindicando melhores salários e condições de trabalho no hospital.

Esse acordo prevê a compra de novos equipamentos e materiais para o setor de ortopedia do Hugo e a melhoria da remuneração dos médicos, inclusive com a equiparação salarial entre concursados e comissionados e um adicional de 20% para plantões noturnos, em feriados e fim de semana.