Assoreamento ameaça araguaia

Jornal Hoje, 14/07/2007

Assoreamento ameaça araguaia

Carla Lacerda de Itacaiú

Não há números finalizados, mas é constatação entre os pesquisadores que estudam o Rio Araguaia: o canal recebe mais sedimentos do que pode carregar. Na prática, significa que o manancial tem acumulado ao longo dos anos um grande aporte de materiais como argila, na superfície, e areia, no fundo. Entre as conseqüências do processo, pelo menos duas se destacam de forma negativa: a diminuição da profundidade e o aumento do número de ilhas.

Segundo o geomorfólogo Thiago Morato, integrante da expedição Couto de Magalhães – iniciativa coordenada pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh) –, o Araguaia carrega por ano aproximadamente 8 milhões de toneladas de sedimentos em suspensão e 800 mil de fundo. Os números, explica, indicam que o rio é dinâmico. Porém, o especialista faz ressalvas. “É um canal em desequilíbrio geomorfológico. O ideal seria que a quantidade de materiais depositados estivesse em conformidade com o volume erodido, situação conhecida como equilíbrio perfeito”, pondera.

O pesquisador chama atenção para o fato de que o assoreamento do rio se intensificou a partir da década de 70 com a expansão agrícola, dobrando a média anual de cerca de 300 mil toneladas para 600 mil de materiais de fundo, somente na região de Aruanã. O uso irregular das margens foi acompanhado de desmatamentos, erosões, lançamento de sedimentos no canal. Essas ações, a longo prazo, podem reduzir a profundidade do leito e comprometer a navegabilidade.


ESTUDOS

Nos últimos três dias, Morato e outro pesquisador da Universidade Federal de Goiás (UFG), o argentino Maximiliano Bayer, têm intensificado as análises topográficas nas praias e ilhas do Médio Araguaia. A intenção é reunir dados geomorfológicos (aspectos do relevo e transporte de materiais) a partir de um aparelho conhecido como GPS geodésico. As informações, que vão criar um mapa tridimensional, serão posteriormente confrontadas com imagens de satélites. O resultado ajudará a entender a dinâmica do rio e de seus ambientes associados (lagos e lagoas contidos na planície fluvial).

De acordo com Bayer, desde a década de 60 têm-se observado deslocamentos laterais no curso principal do Araguaia. A mudança, explica, é um processo natural, que pode ser acelerado pela interferência do homem no meio ambiente.

Os estudos realizados pelos pesquisadores, além de servirem como subsídios para políticas públicas que serão desencadeadas pelo Estado, por meio da Semarh, integram também projeto de doutorado na área de Ciências Ambientais da UFG. A tese vai englobar ainda uma análise sobre as conseqüências da poluição provocada por metais pesados (mercúrio) e agrotóxicos.

O titular da Semarh, José de Paula Moraes, passa a integrar a expedição Couto de Magalhães amanhã. Idealizador da iniciativa, o secretário vai acompanhar de perto o trabalho desenvolvido pelos pesquisadores.