Casos mais graves são atendidos

Jornal Hoje, 17/07/2007

Casos mais graves são atendidos

Márcio Leijoto



Os ortopedistas do Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) resolveram manter, ontem, por tempo indeterminado, a greve iniciada no sábado. Os grevistas reclamam que o governo não atendeu nenhum dos itens pactuados em outubro de 2006, entre eles, melhores condições de trabalho e gratificação por insalubridade e produtividade. Em nota oficial, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informa que cumpriu parte do acordo e joga a responsabilidade para a administração estadual e o Legislativo. Como conseqüência, outras unidades de saúde – principalmente o Centro de Referência em Ortopedia e Fisioterapia (Crof), no Setor Aeroviário – sofrem com problema de excesso de demanda e ameaça de superlotação.


Os grevistas não paralisaram os serviços, mas fazem uma triagem forçada, encaminhando os casos mais simples para outros centros de internação credenciados pelo SUS, como Cais e Ciams, o Hospital Geral de Goiânia (HGG) e o Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Goiás (UFG). Em média, são atendidos pela ortopedia do Hugo 240 pacientes, 30% deles de pessoas com quadro mais simples, segundo a direção do hospital.
A direção do Hugo minimiza a paralisação e diz que os médicos antecipam o que a SES pretende implantar a partir de setembro. “Estão deixando de ser atendidos casos que nem deveriam passar pelo Hugo, que deveriam ser encaminhados aos Cais ou nas cidades de origem do paciente”, diz o diretor-geral do hospital, Luciano Leão. Alguns funcionários, entretanto, afirmam que muitas vezes há exageros e que muitos pacientes que não estão em estado nem grave nem simples aguardam por horas atendimento que duraria bem menos. É o caso da dona de casa Sebastiana Cruvinel Souza, 48, que sofreu fratura exposta na perna ao cair de moto em Doverlândia (a 401 quilômetros de Goiânia) no domingo, chegou a Goiânia às 4 horas da manhã de ontem e até às 18h30 não havia sido atendida. “Se fosse antes da greve, ela já teria ido embora”, comenta um funcionário.

FRATURA


Todos os casos de fraturas expostas e outros considerados graves têm sido atendidos pelo Hugo, segundo a direção e os grevistas. Os demais são encaminhados quase todos ao Crof, da rede municipal e cujo movimento dobrou ontem. Dos 70 pacientes em média que o corpo clínico está acostumado a atender diariamente, foram 140. A equipe plantonista foi acrescida de mais um médico e mais dois técnicos, o dobro do quadro.

O diretor-técnico da unidade, José Carlos da Silva, diz que se a greve no Hugo se estender por mais quatro dias, o Crof vai acabar superlotado. “Tem uma demanda reprimida que vai se acumulando.


Até 90 pessoas não tem problema. Mais que isso, começa a ter problemas. Mesmo porque não temos estrutura e material para isso”, explica. Ontem, a direção do Hugo e do Crof negociavam a transferência de material médico que deixou de ser usado no setor de ortopedia do principal hospital de Goiás. Além disso, existe a preocupação com os pacientes que chegam no Hugo à noite e não são transferidos nem atendidos. O Crof atende das 7 às 19 horas, assim como muitos Cais e Ciams.

O ortopedista Flávio Kuroki diz que os grevistas só vão encerrar a paralisação parcial quando o governo cumprir o acordo selado no ano passado. Além de reajuste salarial, com gratificação e adicional para plantão noturno, em feriado e fim de semana, eles pedem compra de novos equipamentos e matérias para o setor ortopédico. “Entretanto, a Secretaria de Saúde não mandou nenhum representante nem encaminhou nenhuma proposta. Enquanto eles não nos atenderem, a paralisação continua”, diz. A assessoria de imprensa da SES informou que ninguém do órgão se manifestaria ontem.