Desbravando o Araguaia
Jornal Diário da Manhã, 20/07/2007
Desbravando o Araguaia
Millena Lopes
A expedição Couto de Magalhães percorreu o Araguaia num barco em viagem científica de dez dias: estudo sobre condições do rio
Seguindo os caminhos desbravados pelo lendário Couto de Magalhães no século XIX, a expedição de mesmo nome percorreu 400 km de Araguaia, com o objetivo de fazer análises empíricas sobre fauna, flora e solo. Quinze técnicos da Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), Ibama, Universidade Federal de Goiás (UFG) e Faculdades Alves Faria (Alfa) velejaram durante dez dias, a bordo de um barco-hotel, para coletar materiais e informações, com o intuito de fomentar a formulação de políticas públicas para preservação e restauração dos recursos naturais.
A expedição Couto de Magalhães começou no último dia 10 e terminou ontem, em Luís Alves, no extremo noroeste de Goiás. Os pesquisadores chegam hoje a Goiânia com as malas cheias de materiais e informações coletadas, que serão confrontadas com os dados obtidos na primeira edição desta expedição, realizada em 2004. A partir deste estudo, será traçado um diagnóstico da situação do Araguaia, que apontará para programas de desenvolvimento sustentável da bacia do rio.
Estudos pioneiros sobre solo, fauna e flora, além do diagnóstico da educação ambiental junto aos turistas e à população ribeirinha nortearam os trabalhos dos técnicos. Com a expedição foi possível analisar a atual situação ambiental ao longo do rio, georreferenciar as áreas de degradação e as conservadas ambientalmente, coletar água para análise e fiscalizar atividades poluidoras e predatórias, para subsidiar a adoção de medidas necessárias à preservação e recuperação.
Os resultados obtidos serão apresentados à comunidade em geral, com a realização de seminário, previsto para o próximo mês. A partir do diagnóstico, serão traçadas intervenções diretas, com o objetivo de otimizar a atuação dos órgãos ambientais junto ao rio.
O geólogo Milton de Macedo, que coordena a expedição, diz que o lema da viagem científica é conhecer para preservar. Segundo ele, a equipe de pesquisadores vai alimentar um banco de dados com informações técnicas sobre o rio, a partir do levantamento feito há três anos, durante a primeira edição da expedição. “Vamos confrontar os dados para avaliar as condições e contribuir para formular políticas de preservação.” Os pesquisadores contribuirão, ainda, com a comunidade científica, a partir da publicação de artigos científicos sobre as pesquisas realizadas.
Em breve balanço sobre a situação ambiental detectada na expedição, Milton destaca como principais problemas verificados a depredação provocada pela interferência humana e o assoreamento do rio, que tem recebido grande aporte de sedimentos (areia e argila) de seus afluentes.
Botos
Personagem de lendas milenares, o boto-rosa é constantemente agredido. Outrora, pelos pescadores que acreditavam que ele seduzia e engravidava as moças ribeirinhas. Agora, pelos que castram o animal para exibir seu órgão genital, como símbolo de virilidade.
Na expedição, a distribuição geográfica do boto ao longo do Araguaia é tema de pesquisa da bióloga e professora universitária Cristiane Gonçalves de Moraes. A especialista avalia os padrões de ocupação do mamífero aquático e a relação que ele tem com as atividades humanas, como a pesca e o turismo.
Segundo a bióloga, a falta de dados representa um sério risco de preservação da espécie, presente também na região Norte do País. Os “golfinhos de rio” são mais vulneráveis que as espécies marinhas, por que as localidades que margeiam as águas doces foram muito mais exploradas pelo homem. Conseqüentemente, a concentração turística é maior e os níveis de poluição também.