Antidepressivo multiuso

Jornal Diário da Manhã, 22/07/2007

Antidepressivo multiuso

Wanda Oliveira

Rosana (nome fictício)

Rosana (nome fictício)

O consumo de antidepressivos está em expansão no Brasil, informa o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid). Utilizada por pacientes que sofrem de depressão, a droga é cada vez mais prescrita contra o consumo compulsivo. Na verdade, a ação do remédio tornou-se múltipla e pode ser indicado também para doenças como enxaqueca, ansiedade, tensão pré-menstrual (TPM), obesidade, ejaculação precoce e insônia.
Cerca de 15 milhões de comprimidos de Prozac, Zoloft e Pamelor – nomes comerciais – foram consumidos em setembro de 2000 no País, segundo a revista Época. O texto cita que, desde 2001, foram lançadas no Brasil 26 cópias do Prozac, em versões genéricas ou similares. De acordo com a revista, em termos de faturamento, os antidepressivos são o segundo mercado mais importante no País, atrás apenas dos remédios destinados ao aparelho digestivo. Outra semanal, a Istoé, informa que, em média, 118 milhões de antidepressivos são usados anualmente nos Estados Unidos. Tornaram-se os remédios mais utilizados naquele país, superando as drágeas para hipertensão e colesterol.
Embora os antidepressivos não sejam homogêneos quimicamente, constituem vários grupos, segundo o psiquiatra José Reinaldo do Amaral, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG). De acordo com ele, os inibidores de recaptação de neurotransmissores, serotonina e noradrenalina são os principais desse grupo.
O médico diz que essas drogas foram chamadas antidepressivas por ser este o objetivo que conduzia as pesquisas na década de 50, quando identificaram, aleatoriamente, que certos medicamentos teriam ação sobre a depressão. Com a evolução dos estudos, observou-se que estas substâncias também eram eficazes para tratar transtornos de ansiedade, insônia e melhoravam quadros dolorosos, como também retardavam o orgasmo atuando na ejaculação precoce.
Mas por que tantos efeitos? O especialista afirma que uma substância não atua apenas em um único local. “Cada uma das ações no organismo determina um efeito clínico diferente.” Amaral informa que quando uma substância tem vários efeitos, aquele que se deseja é chamado de terapêutico. “Aquele que não desejamos é denominado de efeito colateral.” No caso dos antidepressivos, retardo do orgasmo é um efeito colateral que pode ser utilizado para a ejaculação precoce. “A sedação é um efeito colateral que pode ser usado para a insônia, entre outras doenças”, argumenta.
As drogas contra a depressão são armas que atuam no Sistema Nervoso Central (SNC) e aumentam a disponibilidade de neurotransmissores, particularmente serotonina e noradrenalina nas sinapses (espaço virtual entre uma célula nervosa e outra). Amaral explica que os neurônios se comunicam, passando informações. O especialista observa que presumivelmente haveria baixa concentração dos neurotransmissores no SNC.