É preciso também acelerar a educação
Jornal O Popular, 03/08/2007
É preciso também acelerar a educação
Em meio ao apagão aéreo e ao temor de apagões energético e logístico mais adiante, porque não existem sinais de que realmente vá decolar o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), está na hora de se questionar por que não se consegue acelerar a educação no Brasil. Os países emergentes que conseguiram crescer nos últimos anos tiveram notáveis avanços educacionais.
Hélio Rocha
No início do primeiro governo Lula, em 2003, nasceu uma esperança, puxada pela concepção programática de um educador, o então ministro Cristovam Buarque, cuja demissão, grande erro do presidente Lula, frustrou os que acreditavam que os avanços educacionais finalmente iriam se materializar.
Há tanto exemplo negativo constrangendo a sociedade, enquanto são escassos os exemplos de devotamento à causa educacional, como estes nas escolas goianas que conseguiram superar a média nacional do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Então é preciso valorizar e exaltar tais exemplos, principalmente para que se comprove que é possível educar muito melhor do que, como regra, está se educando – ou deseducando.
A partir de constatações como a fraqueza dos índices de desempenho, cabe investigar, também, por que os recursos, em sim mesmo tão escassos, sequer são aplicados corretamente. Quando serão suficientes e canalizados até a sala de aula, sem desvios e sem ralos burocráticos?
As escolas goianas que registram bom desempenho comprovam o quanto é importante a qualidade dos recursos humanos a serviço do processo educacional. Investir na qualificação dos professores é aposta com retorno garantido, pois mestres qualificados também colocam motivação e dedicação em seu trabalho. São conscientes de sua missão e de sua responsabilidade.
Seria muito bom se também exemplos internacionais históricos inspirassem o tratamento da causa do ensino no Brasil, a fim de que, com a devida pressa para compensar tanto atraso, fosse possível remover a triste sombra da ignorância que continua travando o progresso econômico, humanístico e social no País.
Um exemplo como o da Dinamarca, que era camponesa e indigente até certa altura do século 19, constrangida por vexames, como o fenômeno do husmaend, ou seja, dos sem-teto e sem-terra. Um sacerdote luterano, Nikolai Frederik Grundtvig, conseguiu convencer as autoridades e seu povo a se envolverem com um vitorioso jogo de uma grande idéia: a educação média e superior massiva e maciça. Fez-se uma revolução educacional na exata acepção do termo e a pobreza foi vencida.
No mesmo período, o Brasil convivia com vexatório atraso social, do qual fazia parte a escravatura, com uma minoria de pessoas letradas e as prerrogativas da cidadania sonegadas à maioria.
Hoje a Dinamarca escala o topo das mais elevadas rendas per capita do mundo: US$ 33 mil. É campeã de eficiência previdenciária. Quase todos os dinamarqueses falam mais um idioma, além do dinamarquês. Em vez de déficit habitacional, há um superávit de moradias.
Entre 6 e 17 anos, a educação é compulsória e a taxa de analfabetismo é zero. A expectativa de vida é de 76 anos para os homens e de 80 anos para as mulheres. A taxa de mortalidade infantil é de apenas 4,6. Para efeito de comparação, essa taxa é, no Brasil, de 29 mortes para cada mil nascimentos, apesar de alguns avanços dos indicadores sociais brasileiros nos últimos anos.
Neste crucial momento da histórica político-administrativa e social do Brasil, nem mesmo o PAC, se efetivamente ganhar viabilidade, proporcionará as condições de avanço desejadas, a menos que, ao mesmo tempo, seja acelerada a educação.
Hélio Rocha é colunista do POPULAR