Estudantes estressados

Jornal Diário da Manhã, 05/08/2007

Estudantes estressados

Juliana Luiza

Entrar para a faculdade dos sonhos após anos de estudo pode ser considerado um alívio. Mas engana-se quem pensa que passada a fase pré-vestibular acabaram-se os problemas. Às vezes, a transição para a vida acadêmica e a admissão de novas responsabilidades causam tanto impacto que culminam em um estado de tensão perturbador do equilíbrio do organismo – o popular e cientificamente conhecido estresse.
Pesquisas comprovam: o estresse está mais jovem e presente entre os universitários. Em dissertação de mestrado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, 84 alunos entre 17 e 41 anos do Centro Universitário do Planalto do Araxá (UniAraxá) foram avaliados. Todos sofriam dessa tensão em fases diferenciadas. No total, 48% apresentaram estresse “perigo”, que afeta a memória e reduz a concentração.
Outros 28% tinham estresse “médio”, que se traduz em cansaço excessivo, sem comprometimento do desempenho escolar. Mais 23% dos acadêmicos apresentaram estresse “perigo-agudo” - redutor da imunidade do corpo. Apenas 1% dos alunos tinha estresse na fase de “exaustão”, a mais grave e que pode trazer doenças e na qual o indivíduo precisa se afastar das atividades habituais. Os estudantes eram de Enfermagem, Ciências Biológicas e Educação Física.
Em um outro estudo desevolvido pela PUC de Campinas e Universidade Estadual Paulista (Unesp) no ano de 2004, três pesquisadoras mediram o estresse de 295 estudantes de 15 a 28 anos, que cursavam o primeiro e terceiro anos do ensino médio, curso pré-vestibular e primeiro e quarto anos de ensino superior. Neste universo, mais de 65% apresentaram algum tipo de estresse. Entretanto, os do pré-vestibular tiveram níveis mais elevados, seguidos de estudantes do terceiro ano. Os do 1º ano de ensino superior foram os com menor índice – embora não fugissem do problema.
De acordo com a pesquisa, a transição da vida acadêmica dos estudantes no início dos estudos é um fator que facilita o transtorno. Além das mudanças próprias do ensino, eles se deparam com as incertezas naturais da escolha profissional. Nesse sentido, o motivo principal de tanta tensão seria o aumento da responsabilidade e competitividade, o que leva ao questionamento do atual sistema educacional, em que o jovem tem de ser massacrado psicologicamente para obter o simples direito de estudar.
Em entrevista ao Diário da Manhã em agosto do ano passado sobre o tema, a psicóloga Marilda Novaes Lipp, presidente da Associação Brasileira de Stress, justificou que antigamente as perspectivas dos jovens que se submetiam a um curso superior eram boas. Entretanto, hoje fazem faculdade sem saber se vão conseguir emprego. De acordo com a pós-graduanda em Medicina Comportametal pela Universidade Federal de São Paulo Maria Lúcia Rossi, do Centro Psicológico de Controle do Stress (CPCS-SP), o início e fim de uma etapa da vida acadêmica também são fases propensas ao problema por causa das mudanças.
Alunos de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG) estão mais sujeitos ao estresse do que todos os outros da instituição. A conclusão preliminar veio de pesquisa em desenvolvimento desde o final do ano passado pela disciplina de Psicologia Médica, do Departamento de Saúde Mental e Medicina Legal da faculdade. O principal motivo seria a extensa carga horária – o dobro da que possui o segundo curso com maior número de horas oficiais.