Jornal Diário da Manhã, 06/08/2007

Estudar demais causa bloqueio

Douglas Branquinho
Da editoria de Cidades

Fabio Lima

Estudante Ana Paula Messias Nascimento, 17, estuda duas horas por dia, e, sem exageros, foi aprovada para Enfermagem na Universidade Católica de Goiás, mas quer mesmo é aprovação na Universidade Federal

Para se conseguir uma vaga na universidade, são necessárias horas de estudo. Todo o conteúdo de uma vida escolar resumido em uma única prova. Para o exame que decide rumos na vida de um jovem, muita atenção é exigida. Mas alguns vestibulandos que estudam exageradamente às vésperas das provas podem ter sua classificação comprometida. Cansados, eles podem sofrer um “apagão” durante as respostas das questões das provas.

Evitar o esforço exagerado e desnecessário depende de planejamento nos estudos. Professores e médicos concordam que a ânsia, a pressão dos pais e a autocobrança, além do esforço físico e as poucas horas de sono, podem alterar o raciocínio no momento em que mais os candidatos precisam da memória.

A psicóloga Angela Duarte diz que cada um possui seu limite; por isso, não é aconselhável o exagero. Um adolescente, segundo ela, precisa dormir entre nove e dez horas por dia porque seu organismo – principalmente o cérebro – precisa desse padrão de descanso. Se a pessoa não dorme bem no dia-a-dia, o resultado é o desequilíbrio do mecanismo biológico do sono. Segundo a PhD em Psicologia Infantil e Desenvolvimento Humano, o respeito às horas de sono é parcela importante para a boa resolução de uma prova. Angela não vê problema em se trocar o dia pela noite de estudo se o repouso necessário for reposto durante o dia.

Mesmo assim, ela não recomenda a prática porque a natureza programou o organismo humano para dormir à noite. Porém, admite que cada um tem seu próprio biorritmo; assim, algumas pessoas possuem melhor performance na período noturno. No que diz respeito ao descanso, a psicóloga acha que há tempo de dormir e de estudar. “Quando extrapola o hábito de estudar, o estudante acaba perdendo a capacidade de assimilar o conteúdo. Portanto, é necessário que o aluno relaxe, para que não haja saturação da mente.”

Energéticos – Muitos candidatos, na busca por garantir mais tempo aos estudos, tomam bebidas energéticas, muito em uso hoje em dia. Uma vez ou outra, o sacrifício pode valer a pena, mas ingerir sistematicamente esses produtos pode levar à dependência e até a problemas cardíacos – como a taquicardia, por exemplo –, além de gerar efeito depressivo, diz Angela Duarte. Isso porque muitas dessas bebidas contêm alta dosagem de cafeína e até álcool. “Tomar estimulantes para ficar acordado é um perigo. Há um grande cansaço em seguida, é como dar um passo à frente e dois para trás.”

Outro retrocesso para o vestibulando pode ser o excesso de cobrança. No período anterior às provas, é essencial a tranqüilidade e o relaxamento dos candidatos. Por isso, a natural cobrança dos pais pode atrapalhar o rendimento, segundo a psicóloga. Ela aconselha aos pais a evitarem essa atitude, pois nesse momento tal forma de conflito gera mais ansiedade.

E se relaxar é importante, antes de pensar em provas, na fase final é imprescindível destinar tempo ao lazer. O professor Rodrigo Rodrigues garante que o divertimento e o relaxamento são importantes para equilibrar o emocional. O que o estudante não deve fazer em hipótese alguma é ingerir bebidas alcoólicas ou ir a shows na véspera das provas, pois tais atitudes fazem diminuir a concentração. Na véspera se deve também conversar com amigos assuntos que não estejam ligados ao vestibular. “Muita conversa sobre as provas, pode provocar ansiedade”, alerta.

O professor acha que os estudantes devem se divertir sempre, mas também preservar os momentos de rotina dos estudos. “A diversão é uma coisa que deve fazer parte da agenda dos estudantes, até porque é uma coisa que compensa o esforço do ano inteiro e deixa o candidato mais confortável para as provas.”

Evitar esforço exagerado e desnecessário depende de planejamento nos estudos. Segundo Rodrigo, o aluno deve fazer uma grande revisão do assunto cerca de dois meses antes das provas. Ele defende que o candidato deve estudar, ao longo do ano, de duas a quatro horas por dia, porque só assim ele vai absorver todo o conteúdo.

O professor sugere que o estudante organize horários de estudos e evite consultar vários livros de uma mesma disciplina ao mesmo tempo, porque cada um tem um enfoque diferente sobre o mesmo assunto, o que poderia confundir o raciocínio. A melhor preparação é rever estudos dados na escola diariamente, revisando em seguida o conteúdo estudado em aproximadamente uma hora.

Ana Paula Messias Nascimento, 17, estuda cerca de duas horas por dia. Ela foi aprovada no último vestibular da Universidade Católica de Goiás (UCG), para Enfermagem, na sétima colocação. A estudante vai tentar o mesmo curso, porém, na Universidade Federal de Goiás (UFG), no final do ano. Ana Paula prefere estudar durante o dia, pois à noite o sono logo a interrompe.

Geralmente costuma direcionar os estudos para as áreas que serão mais exigidas pelo curso. Ela confessa que já exagerou nos estudos, mas viu que a fadiga jogava todo o conteúdo no lixo.