Genéricos ja somam 14% das vendas em farmácia
Jornal Hoje, 04/08/2007
Genéricos ja somam 14% das vendas em farmácia
Carla Lacerda
Moradora do Criméia Oeste, a pensionista Eurípia Guimarães Barbosa, 63, aprendeu a consumir medicamentos genéricos há cinco anos. “Sinto confiança nas orientações que são repassadas pelo farmacêutico da drogaria. E tem também a questão do preço”, revela, ao ressaltar que economiza até 50% na compra de remédios para pressão. O argumento que faz da dona Eurípia uma das milhares de consumidoras do produto é o mesmo que sustenta o crescimento na área comercial. No ano passado, os genéricos já respondiam por 14% dos medicamentos vendidos no Brasil.
Os dados foram divulgados esta semana e fazem parte de pesquisa de monitoramento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo o levantamento, foram comercializadas 329 milhões de caixas de genéricos em 2006. Há sete anos, quando o produto começou a circular no mercado, o número era bem mais modesto: não ultrapassava 20 milhões de unidades vendidas. O faturamento do setor pulou de R$ 87 milhões, em 2000, para R$ 1,5 bi, no ano passado.
Em Goiás, as estatísticas praticamente acompanham a tendência nacional. De acordo com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista Farmacêutico, Carlos Gonçalves Pereira, 12% das vendas efetuadas no Estado são de genéricos. Em 2005, compara, o índice era de 6%. “O crescimento ocorreu principalmente nos últimos três anos. Preço atrativo e consciência do consumidor são os principais motivos”, detalha.
Na drogaria Farma Rassi, no Jardim Luz, em Aparecida de Goiânia, a economia do consumidor pode ainda ser maior: os genéricos estão sendo vendidos a preço de custo. A farmacêutica Fabiana Borges Franco confirma o crescimento na comercialização desses medicamentos: 30% dos produtos que saem da loja são genéricos. A maior demanda é por antibióticos, antiinflamatórios e anti-hipertensivos. A maioria dos clientes, segundo a farmacêutica, é da classe média ou C.
A fabricação de medicamentos genéricos foi implementada no País com a Lei nº. 9.787, de 1999. O produto tem o mesmo princípio ativo do medicamento de referência, além da mesma dose, indicação terapêutica e a mesma forma de administração ao paciente. A legislação determina que o genérico deve ser no mínimo 35% mais barato do que o medicamento de referência. O mais recente incentivo para o setor foi a liberação do registro de anticoncepcionais genéricos. A medida entrou vigor em junho deste ano.
HC E CEROF PARALISAM POR 24 HORAS
Os funcionários do Hospital das Clínicas (HC) e do Centro de Referência em Oftalmologia (Cerof) da Universidade Federal de Goiás paralisaram por 24 horas, ontem, os atendimentos em protesto contra o projeto de lei complementar que tramita na Câmara dos Deputados. Consultas ambulatoriais, exames médicos e até cirurgias eletivas foram cancelados. No Cerof, não houve atendimento. No HC, apenas as atividades do pronto-socorro e das seções de tratamento de doenças crônicas, como hemodiálise, quimioterapia e radioterapia funcionaram normalmente.
A paralisação foi em apoio à greve dos técnicos administrativos das universidades federais de todo o País, que já dura 63 dias e tem como carro-chefe a rejeição ao projeto. Se ele for convertido em lei, os hospitais-escolas federais poderão se transformar em fundações de direito privado. Bastaria manifestação favorável dos conselhos universitários de cada instituição. Com isso, dizem os manifestantes, servidores e usuários serão prejudicados. Os novos funcionários dos hospitais seriam contratados pelo regime celetista, perdendo a estabilidade que têm os atuais estatutários. Às diretorias ficaria permitida a cobrança de taxa ao público para o atendimento hospitalar.
VIAGEM
Estima-se que 1,2 mil pessoas sejam atendidas diariamente no HC e outras 600 no Cerof. O ensacador Alito Alexandre Ribeiro, 47, precisa de transplante de córnea para o olho direito e seria consultado por volta das 11 horas. Ele veio de Jataí para a consulta de ontem, que estava agendada havia dois meses. A cirurgia é urgente. Diabético, ele já perdeu boa parte da visão. Com o olho direito, enxerga apenas vultos. O esquerdo há algum tempo foi tratado por causa de catarata.
O aposentado Sebastião Severino da Silva, de 59 anos, chegou ao Cerof ontem por volta das 7 horas para uma consulta que confirmaria uma cirurgia no olho direito, que apresenta inchaço devido a derramamento de sangue. Se o médico julgasse necessário, a cirurgia aconteceria no mesmo dia, conforme conta.
Depois de acordar às 3 horas e percorrer 170 quilômetros de estrada, desde Buriti até a capital, Sebastião encontrou os portões do Cerof fechados. “Os funcionários estendiam as faixas de protesto e disseram que hoje (ontem) eu não seria atendido”, revela. “Mandaram ligar e marcar a data da nova consulta”, continua.
Por volta das 6h30, a dona de casa Maria José Cunha, 51, de Itumbiara, já estava na porta do Cerof para fazer exames. Ela sofre de glaucoma e foi encaminhada pela prefeitura da cidade para tratamento no HC. Maria conta que na rede pública de saúde local não há recursos suficientes, o que impediu, inclusive, o diagnóstico da doença. “Tive de esperar três meses para surgir vaga aqui.
Parece que vou ter de esperar mais três”, criticou. Os médicos alertaram Maria de que o estágio do glaucoma é avançado e o tratamento é urgente.
TELECONSULTA ATINGE OBJETIVO, DIZ PREFEITURA
O secretário municipal de Saúde, Paulo Rassi, divulgou ontem uma pesquisa feita pelo órgão em que 80% dos entrevistados dizem que a Central de Atendimento ao Cidadão ou Teleconsulta, que completa um ano de funcionamento no próximo dia 4, facilitou o agendamento de consultas nos Centros de Atendimento Integral à Saúde (Cais), Centros Integrados de Atendimento Médico-Sanitários (Ciams) e outros centros de saúdes municipais. Cerca de 85% dos usuários, segundo o levantamento, consideram o serviço melhor do que o convencional, quando era preciso se dirigir até uma unidade de saúde e enfrentar filas. Desde sua criação, o Teleconsulta realizou mais de 543 mil atendimentos.
Paulo Rassi comentou a queixa de parte dos usuários – não anotada na pesquisa –, de que alguns dos atendimentos marcados no Teleconsulta não são realizados. Ele diz que a culpa é da defasagem de médicos existente no município. Atualmente, a rede municipal de Saúde tem a necessidade de contratar mais 70 médicos, segundo o secretário. Entretanto, antes de suprir essa carência, a Prefeitura precisa substituir os profissionais comissionados por efetivados. São aproximadamente 900 dos 1,4 mil médicos que se encontram nesta situação. Um concurso foi realizado em maio e foram contratados menos de 540 profissionais. Paulo diz que há uma dificuldade em se conseguir um profissional de saúde que aceite trabalhar para o poder público.
O objetivo do Teleconsulta, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, é acabar com as longas filas na entrada das unidades de saúde, que começavam de madrugada em muitos dos casos.
Usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) denunciavam na época esquemas como a venda de senhas e a necessidade de percorrer várias unidades até encontrar um médico disponível para atendimento. O Teleconsulta não só evita irregularidades como faz uma busca em várias unidades quando não há vaga para a pessoa no Cais mais próximo da casa dela.
O Teleconsulta atende das 7 às 19 horas, todos os dias da semana, inclusive aos feriados. A pessoa precisa ser residente em Goiânia e ligar para o telefone 0800 646 1560.
PARA SINDICATO, UNIDADES DEVEM FICAR PREJUDICADAS
A paralisação foi capitaneada pelo Sindicato dos Trabalhadores Técnicos-Administrativos em Educação da UFG (SintUFG). De acordo com o coordenador do comando de greve, João Pires Júnior, se o HC e o Cerof forem transformados em entidades de direito privado, as atividades de ensino, pesquisa e extensão, inerentes aos hospitais-escolas, podem ficar comprometidas, já que a unidade se desligaria, na prática, da UFG. A Associação dos Bolsistas Universitários do HC, por sua vez, teme que a mudança extinga as 270 bolsas oferecidas aos estudantes pelas diversas faculdades de saúde que compõem a universidade. As vagas seriam oferecidas a profissionais graduados.
Não há previsão para que o PLP n° 92 seja retirado da pauta de discussão da Câmara. O diretor-geral em exercício do HC, Luís Arantes Rezende, informa que ainda é cedo para dizer se existe chance de o hospital tornar-se entidade de direito privado e, a seguir, cobrar taxa de atendimento. Ele diz que os funcionários têm direito de protestar, mas isso não garante aceitação das solicitações e só traz prejuízo à população. “Muitos casos oftalmológicos só são atendidos, por meio da rede pública, no Cerof”, destaca.