Mudanças no vestibular causam reação

Jornal O Popular, 15/08/2007

Mudanças no vestibular causam reação

Alunos e professores alegam que proposta de ampliar ingresso de oriundos da rede pública só surtiria efeito em cursos pouco concorridos

Rosane Rodrigues da Cunha

Um grupo de acadêmicos e professores da Universidade Federal de Goiás (UFG) protestou ontem contra a proposta da Câmara de Graduação da universidade de ampliar o ingresso de alunos oriundos de escolas públicas na instituição. A proposta, que ainda depende de avaliação pelo Conselho Universitário (Consuni), no dia 24, prevê a aprovação na primeira fase do vestibular de 20% a mais dos candidatos egressos da rede pública de ensino. Isso significa que ex-estudantes de escolas públicas reprovados nesta fase poderão continuar participando do vestibular graças à chamada extra. Na segunda fase, o projeto, o UFG Inclui, prevê um bônus de 8% na nota final dos egressos de estabelecimentos públicos.

Para os alunos e professores que participaram do protesto, a bonificação proposta não garante o acesso de estudantes de baixa renda à UFG. Segundo o professor de Ciências Sociais, Roberto Lima, a chamada extra ou os 8% de incremento na nota final não vão assegurar o ingresso de candidatos de escolas públicas aos cursos mais concorridos. “O impacto do bônus será mínimo na nota alcançada pelo aluno que vem de um ensino público precário”, diz.

Caso a bonificação tenha um impacto no acesso de alunos egressos de escolas públicas à UFG, essa mudança, de acordo com o professor, deve ficar restrita aos cursos menos concorridos, o que não vai alterar o processo de elitização daqueles mais disputados, como Medicina, Odontologia e Direito, cuja maioria das vagas é preenchida por ex-estudantes da rede privada. E mais: segundo os manifestantes, o projeto UFG Inclui exclui negros, indígenas e quilombolas.

Acesso
“A universidade tem de garantir o acesso ao ensino superior a todos os grupos que compõem a população e o UFG Inclui não faz isso”, critica Fernando Viana Costa, representante do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFG. Segundo ele, o histórico das aprovações nos vestibulares da universidade nos últimos anos só reforça o processo de elitização da instituição. Um projeto com as propostas de mudanças feitas por alunos e professores foi entregue ontem pela manhã à pró-reitora de Pesquisa e Graduação, Divina das Dores de Paula Cardoso, para ser repassado, ainda hoje, ao reitor Edward Madureira. Como o reitor estava viajando ontem, a pró-reitora recebeu os manifestantes na entrada da reitoria, ouviu as reivindicações do grupo e se comprometeu a encaminhar a proposta a Madureira. Os manifestantes esperam se reunir ainda nesta semana com o reitor.