Folha Online, 15/08/2007

Criciúma transforma caça-níqueis em jogos educativos

Símbolos de corrupção no país, as máquinas caça-níqueis se transformaram em ferramenta educacional em Criciúma (202 km de Florianópolis). Sempre associadas aos jogos de azar, elas foram adaptadas para serem usadas em escolas das redes municipal e estadual com jogos que testam o conhecimento em língua portuguesa e em outras áreas.

A idéia partiu de um delegado da cidade. O Ministério Público a encampou e pediu à Justiça a liberação dos equipamentos apreendidos pela polícia, normalmente queimados no final dos processos judiciais. Para reprogramar as máquinas, os órgãos procuraram a Unisul (Universidade do Sul de Santa Catarina) e uma escola técnica do município.

Alunos e professores desenvolveram um projeto, aproveitando os componentes das máquinas --algumas contavam até com tela plana e monitor de 17 polegadas. Os equipamentos ganharam um novo design, com um teclado acoplado. Cerca de 170 máquinas caça-níqueis já foram adaptadas e cedidas às escolas.

Para o delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, Maurício Eskudlark, a iniciativa deverá suprir o problema da falta de espaço para armazenar as máquinas apreendidas.

"As delegacias estão abarrotadas de máquinas. Como a Justiça demora para autorizar [a destruição], há depósitos e até mesmo áreas de circulação totalmente tomados por elas. Isso causa um transtorno."

Desde dezembro, mais de 600 caça-níqueis foram apreendidos apenas em Criciúma pela Polícia Civil, que também interditou 12 cassinos clandestinos e fechou duas oficinas de manutenção e montagem das máquinas.

Segundo Eskudlark, em todo o Estado há pelo menos 1.500 máquinas paradas, que podem ser reaproveitadas. O objetivo é estender o benefício a escolas de outras cidades. Em Santa Catarina, havia um decreto estadual que permitia o uso de caça-níqueis. A Justiça derrubou a legislação no início deste ano, após ações da Policia Federal que apontaram relação da atividade com o crime organizado.