SP anuncia universidade virtual

Jornal O Estado de S. Paulo, 17/08/2007

SP anuncia universidade virtual

Simone Iwasso

Carlos Vogt, novo secretário de Ensino Superior, quer parceria de instituições estaduais, federais e TV Cultura

O novo secretário de Ensino Superior, o lingüista Carlos Vogt, ex-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), apresentou ontem um projeto ambicioso para sua gestão: a criação de uma universidade aberta e virtual do Estado de São Paulo. A proposta foi elaborada por Vogt antes de assumir o cargo e preenche o que ele acredita ser a função da pasta, alvo de polêmica desde sua criação no início do ano: otimizar os recursos disponíveis para organizar políticas que atendam à demanda de todas as classes sociais pela universidade, sem interferir na autonomia universitária.

Outra mudança divulgada pelo novo secretário tem relação com a própria Fapesp, que a partir desta semana passa a ser vinculada à Secretaria de Ensino Superior, e não mais à de Desenvolvimento, que até o ano passado chamava-se Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia. A agência é uma das principais fomentadoras de pesquisa no País e cerca de 70% de seus recursos acabam sendo destinados para trabalhos desenvolvidos nas três universidades estaduais paulistas.

“Quanto à Fapesp, não fazia sentido mantê-la separada das universidades, elas estão muito ligadas. Agora a secretaria poderá elaborar uma visão mais organizada do ensino superior, que é muito complexo no Estado, pela quantidade, qualidade e produção científica. Ela deve ser parceira na discussão de questões referentes à universidade”, disse, refutando qualquer alusão à interferência na gestão dos reitores.

“A autonomia, depois da discussão nesse ano em torno do tema, acabou sendo reforçada, e ainda mais garantida, pelo decreto declaratório assinado pelo governador”, afirmou.

Em maio, a reitoria da Universidade de São Paulo (USP) foi ocupada por parte de alunos, funcionários e professores. Eles permaneceram por mais de um mês no local protestando contra a criação da Secretaria de Ensino Superior e decretos assinados por José Serra (PSDB), que consideravam uma ameaça à autonomia das instituições. O titular da pasta era o médico José Aristodemo Pinotti.

PARCERIAS

A idéia da universidade aberta, o principal foco da secretaria a partir de agora, seria colocada em prática por meio de parcerias com as universidades estaduais (USP, Unesp e Unicamp) e federais (Unifesp e UFSCar), TV Cultura (por meio da disponibilidade do sinal aberto), Secretaria da Educação (responsável pelo ensino fundamental e médio) e Fapesp. Além disso, contaria com pólos presenciais, telefone para atendimento, site na internet e material didático impresso e digital.

Vogt estima que o investimento necessário para os três primeiros anos seja de R$ 170 milhões. Mesmo não tendo nada concreto ainda, ele pretende dar início no ano que vem ao menos a um pólo experimental da universidade. “O governo se comprometeu com esse projeto, que é inclusive um dos motivos de eu ter aceito vir para o cargo”, explicou.

A instituição atuaria em três eixos principais. O primeiro, a formação de cerca de 60 mil professores da rede pública estadual que ainda não têm formação em ensino superior (hoje, a Secretaria da Educação tem contratos com várias universidades para formar os professores). O segundo objetivo seria oferecer cursos de graduação e licenciatura em várias áreas, como Língua Portuguesa e Literatura, Matemática, Biologia, Química, Física.

O terceiro foco da universidade aberta seria a oferta de cursos de pós-graduação, que iriam desde pós lato sensu e stricto sensu, especializações, extensões universitárias e atualização profissional.