Professores em escassez

Jornal Diário da Manhã, 18/08/2007

Professores em escassez

Daniel Gondim

Erik Túlio Oliveira de Sousa, 26, engrossa as estatísticas que indicam um futuro incerto para o magistério. Em 2000, foi aprovado no vestibular para licenciatura em Ciências Sociais na Universidade Federal de Goiás (UFG) e três anos mais tarde desistiu da graduação. A oportunidade de estudar inglês fora do Brasil mudou a trajetória do futuro professor, que optou por trancar o curso e se mudar para os Estados Unidos.
Após viver mais de três anos no exterior, retornou ao Brasil e tentou retomar os estudos, mas não conseguiu se readaptar. Ele explica as dificuldades encontradas ao retornar para a universidade, e os baixos salários o levaram a desistir de ser professor. Erik Túlio destaca que nunca teve dúvida quanto a sua vocação. “Quando tive a oportunidade de vivenciar o trabalho em sala de aula, tive certeza que seria professor”, comenta, ao lembrar da experiência de dar aulas de Sociologia em uma escola do ensino médio de Goiânia.
Ele afirma que não desistiu de concluir uma graduação e faz planos para cursar Direito a partir do ano que vem. A experiência vivida por Erik ilustra as dificuldades encontradas para a formação de novos professores tanto em Goiás quanto no Brasil. Nas duas maiores universidades goianas, em média, 50% dos alunos matriculados em cursos de licenciatura desistem do magistério após a aprovação no vestibular.
Um relatório divulgado em maio pelo Conselho Nacional de Educação revelou que as escolas públicas brasileiras precisam de 402.749 professores de Matemática, Física, Química, Educação Artística, Geografia e Biologia. Porém, entre 1990 e 2005 saíram das universidades brasileiras apenas 368.688 professores destas disciplinas.
Para evitar um colapso na estrutura educacional brasileira, que o Ministério da Educação (MEC) chamou de “apagão do ensino médio”, o governo federal estuda a possibilidade de contratar profissionais liberais, como engenheiros, agrônomos e profissionais de carreiras afins às disciplinas de Química, Física, Matemática e Biologia.
Para assumir as aulas, os candidatos fariam cursos de complementação pedagógica. Além disso, outras medidas como retardar a aposentadoria de professores que estão na ativa e contratação de docentes estrangeiros estão em análise.
No Brasil, a situação que mais preocupa é a baixa quantidade de professores de Física e Química. Para cada disciplina, faltam mais de 55 mil docentes, e nos últimos 15 anos só foram diplomados 13.504 professores de Física e 23.925 de Química.
O diretor do Departamento de Física, Matemática e Química da Universidade Católica de Goiás (UCG), professor Antônio Newton Borges, considera que os baixos salários pagos aos professores de ensino médio, sobretudo nas redes municipal e estadual de ensino, colaboram para uma menor oferta de mão-de-obra na área da educação. “O Estado é o grande empregador na área da educação e para receber um salário um pouco melhor os professores têm que cumprir uma carga horária excessiva.”

menor procura – Segundo Antônio Newton, o curso de licenciatura em Física possui a menor procura entre os cursos oferecidos pela UCG. O diretor explica que a maior parte dos estudantes trabalha durante o dia e estuda à noite e, por ser um curso que exige uma carga de estudo maior por parte dos alunos, muitos deles acabam desistindo. “Cerca de 50% dos alunos que cursam licenciatura não concluem a graduação”, completa.
A situação no curso de Química da Universidade Federal de Goiás (UFG) não é diferente. O coordenador do curso, Neucírio Ricardo de Azevedo, afirma que a evasão no curso chega a atingir 20%. Segundo ele, dois fatores são determinantes para que um aluno abandone o curso.
“O aluno chega sem preparo na faculdade e não consegue acompanhar o ritmo puxado das aulas. Além disso, os livros do curso são muito caros e quem não possui um bom poder aquisitivo não tem condições de se sustentar sem trabalhar”, afirma. Na turma que se formou em 2006, dos 60 alunos no início do curso, apenas 23 conseguiram se formar.
No curso de Matemática da UFG, os números também são preocupantes. Segundo o coordenador do curso, professor Maurício Donizetti Pieterzack, o percentual de alunos que se formam em licenciatura é inferior a 50%. “O estudante até gosta de Matemática, mas não tem noção de como funciona o curso. Quando ele descobre que o mercado não valoriza o profissional da educação, abandona”, afirma Maurício.