Expansão da UFG: tensões e propostas
Jornal O Popular, 19/08/2007
Expansão da UFG: tensões e propostas
O governo federal, por meio do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), convoca as universidades federais a apresentarem planos de reestruturação e expansão de suas atividades de graduação presenciais, em que poderão estar previstos recursos adicionais para contratação de professores, técnicos-administrativos, manutenção, construções e laboratórios. O Conselho Universitário da UFG constituiu comissão para propor ações a serem implementadas.
Nelson Cardoso Amaral
A sociedade tem exigido das instituições universitárias o desenvolvimento de diversas funções e, há duas décadas, detectou-se uma grande explosão em suas atividades: educação pós-secundária; investigação; fornecimento de mão-de-obra qualificada; educação e treinamento especializados; fortalecimento da competitividade da economia; mecanismo de seleção para empregos de alto nível; mobilidade social para filhos(as) das famílias operárias; prestação de serviços; igualdade de oportunidades para mulheres e minorias raciais; preparação para os papéis de liderança social, etc.
As universidades federais suportam muitas tensões por terem de desenvolver múltiplas atividades, e vivem uma situação de quase heteronomia, pois muitas vezes se tornam prisioneiras das solicitações das agências financiadoras, estatais e não estatais, por terem um financiamento irregular, insuficiente e quase sempre decrescente.
Com a edição do Reuni, o que se quer é uma grande expansão nos cursos de graduação presenciais. São apresentados muitos argumentos que justificam essa convocação: a) o quantitativo de jovens na faixa etária entre 18 e 24 anos que estão matriculados na educação superior brasileira atinge um porcentual pequeno, em torno de 11%, se comparado com as exigências do Plano Nacional de Educação, que é de 30%; b) as matrículas na educação superior brasileira estão em sua maioria nas instituições privadas (mais de 70%); c) está havendo uma exaustão financeira nas famílias brasileiras que as impede de pagar mensalidades nas instituições privadas e; d) há uma demanda cada vez maior do mundo do trabalho para a contratação de pessoas que possuam um diploma de nível superior, independentemente de que formação profissional específica essa pessoa possua.
Uma tensão presente neste momento está exatamente nas metas a serem atingidas, quais sejam: 18 alunos por professor e uma taxa de conclusão de 90%. Com relação à elevação da taxa de conclusão, esta possui componentes que não dependem das instituições e sim da própria pessoa, de sua família e de fatores inerentes à estruturação da sociedade. Entretanto, a Comissão da UFG discute ações efetivas para minimizar esse fato, tais como: preencher imediatamente vagas existentes em todos os semestres letivos; concessão de bolsas-permanência; constituição de tutorias e implementação de atendimento especial aos alunos do primeiro ano -- promovidas por estudantes bolsistas escolhidos dentre os alunos de mestrado e doutorado.
A Comissão da UFG está propondo a implantação de novos cursos que tenham estruturações curriculares que formem pessoas em nível superior, com conhecimentos amplos em uma grande área do conhecimento, os Bacharelados em Grandes Áreas do Conhecimento (BGAs), sem uma formação profissional específica, como é a nossa tradição. Propõe-se o oferecimento dos seguintes BGAs: Ciências da Vida; Ciências Humanas e Sociais; Letras e Artes e Ciências Exatas e da Terra, considerando-se propostas originadas na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e na Universidade de Brasília (UnB).
A UFG, no caso da opção por esses cursos de formação, esclareceria aos jovens que a entrada em um BGA lhes proporcionaria o amadurecimento necessário para a sua opção ou não por uma posterior formação profissional específica, deixando bem claro que créditos seriam aproveitados no caso de sua entrada, via vestibular, em um curso que promova uma formação profissional específica -- na UFG ou em outra instituição de educação superior.
Além disso, os BGAs seriam uma boa opção para aqueles que precisam de um diploma com o objetivo de prestar concursos ou progredir em carreiras no trabalho e, também, para pessoas não tão jovens e que pretendam adquirir uma formação não profissional em nível superior. Ao terminar um BGA, a pessoa poderia realizar uma pós-graduação lato sensu se especializando em assunto que, por exemplo, o mundo do trabalho lhe exigisse. Além disso, ela estaria capacitada para se especializar em outras áreas ao longo da vida.
A Comissão programou seminários que debatem esses temas, e a UFG, se quiser iniciar as expansões em 2008, terá de apresentar sua proposta até meados de outubro. Espera-se a contribuição da sociedade neste momento singular em que o governo federal nos apresenta a possibilidade de reestruturar e expandir a graduação presencial na UFG.
Nelson Cardoso Amaral é professor do Instituto de Física e do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFG, assessor da Reitoria e membro da comissão que discute propostas para o Reuni/UFG