Reestruturação da UFG gera polêmica

Jornal Tribuna do Planalto, 18/08/2007

Reestruturação da UFG gera polêmica

Lucimeire Santos

Ao analisar a proposta de Reestruturação e Expansão da Universidade Federal de Goiás (Reuni/UFG), apresentado pelo Conselho Universitário (Consuni) no primeiro dos quatro seminários programados pela instituição, na quarta-feira, 15, o Diretório Central dos Estudantes da UFG (DCE/UFG) manifestou posição contrária ao projeto, sob o argumento de que a universidade está sendo pressionada no aspecto financeiro a se reestruturar, sem pensar na qualidade de ensino.
 
O questionamento é de que o projeto apresentado pela Comissão designada pelo Consuni não vai refletir na ampliação do conhecimento, uma vez que, conforme afirma o estudante João Victor Nunes Leite - um dos representantes da direção do DCE -, "o projeto atende a demanda do Ministério da Educação [MEC] para formar o maior número de alunos, com vistas ao mercado". A discussão promete ser polêmica, já que só agora os estudantes - que têm voz, mas não direito a voto na reunião do Consuni que definirá sobre as possíveis alterações na Universidade - estão tomando conhecimento da proposta.

Definido em abril pelo MEC, o Reuni estabelece que, para angariar recursos do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), as universidade devem apresentar um plano de expansão das vagas, o que inclui também a reestruturação curricular. Em troca, o MEC garante a liberação de R$ 2 bilhões nos próximos quatro anos. Para a UFG, estariam disponíveis R$ 4,4 milhões, recursos considerados insuficientes diante das metas apresentadas na pré-proposta da UFG, que deverá ser votada na reunião do Consuni no próximo dia 24. Entre as propostas, estão a ampliação do número de vagas em cursos como de Medicina e criação de outros, como Arquitetura, Engenharia Ambiental e Sistemas de Informação.

Para estudantes e diretores de unidades acadêmicas envolvidos na discussão, os pontos mais polêmicos dizem respeito à exigência do MEC para que as Instituições Federais de Ensino (Ifes) ampliem de 10 para 18 o número de alunos por professores, proporção que estaria acima da praticada pelas instituições internacionais, cuja média é de 16 alunos por professor. Também não foi bem-vinda a criação dos bacharelados em grandes áreas do conhecimento (BAGs), que na UFG foram inspirados nas áreas definidas pela Universidade de Brasília (UnB), dentro da concepção do projeto Universidade Nova - Ciências da Vida, Letras e Artes, Ciências Humanas e Sociais, e Ciências Exatas e da Terra.

Para fugir de uma reformulação total na forma de ensino dentro da instituição, a UFG optou pela proposta de manutenção da estrutura atual dos cursos oferecidos, paralela à criação dos bacharelados. Assim, haveria duas possibilidades de ingresso na instituição: uma nos moldes tradicionais, pelo vestibular - com novos critérios que serão acrescentados pela UFG - e outra específica para os BAGs.

Proposta
A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) conseguiu ampliar a prazo para a apresentação das propostas ao MEC até o dia 15 de outubro.  Mesmo ainda na expectativa da decisão do Consuni, o assessor da reitoria da UFG, professor Nelson Amaral, responsável pela elaboração da proposta da federal goiana, adota um discurso pessimista em relação à reestruturação. "De toda essa discussão, a nossa conclusão é que, por mais esforços que façamos, não será possível atender as metas do Reuni".

Por outro lado, dirigentes e estudantes são unânimes ao defender a necessidade de  processo de expansão de vagas no ensino superior. "A universidade que está aí foi concebida numa lógica da Ditadura Militar. Por isso não somos contrários à reformulação. O que queremos discutir é um modelo humanizado de universidade e não simplesmente numa perspectiva quantitativa, como está sendo proposto", diz João Victor Nunes. E isso cria, assim, um processo de discussão de universidade brasileira que parece estar longe de definição do modelo ideal. Para Nelson Amaral, a exigência imposta às Ifes impulsionará no curto prazo uma mudança radical também nas universidades privadas e estaduais, não sendo descartada uma demanda maior de alunos nos cursos destas instituições.

Isso, segundo ele, poderá ocorrer, principalmente em Goiás, caso sejam aprovados o BAG's e mantidos os cursos com estruturas tradicionais. "Já é possível visualizar até a publicidade que algumas faculdades privadas poderão fazer para atrair, por exemplo, um aluno que tenha optado apenas por cursar um bacharelado sem optar em profissão específica", diz, acrescentando que este aluno poderia ser convocado a ingressar num dos cursos oferecidos por estas instituições.

Idealizador da proposta de Universidade Nova, o reitor da Universidade Federal da Bahia, Naomar Monteiro de Almeida Filho, porém, segue na defesa dos bacharelados. Para ele, independentemente das possibilidades que estão sendo aventadas, o aluno ganhará em conhecimento e maturidade intelectual para decidir o seu futuro profissional. O mais importante da reestruturação, contudo, é que, segundo o reitor, o ensino superior no Brasil passou a receber investimentos que foram contingenciados durante o governo Fernando Henrique Cardoso.

Os objetivos do Reuni

O Reuni foi criado por meio do Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007. Sua principal meta é aumentar tanto o acesso como a permanência nas universidades federais.  O Reuni está inserido no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), cuja principal meta é de que 30% dos jovens brasileiros na faixa etária de 18 a 24 anos tenha acesso ao ensino superior até 2010.

A contrapartida das universidades prevê o compromisso de:

* Reestruturação curricular e melhoria na condição de ensino, de modo a reduzir as taxas de evasão escolar
* Aumento de matrículas, sobretudo no ensino noturno, com a progressiva equiparação entre o turno diurno.
* Facilitação da mobilidade do aluno dentro dos cursos, com aproveitamento de créditos em disciplinas e cursos
* Formação ampla do estudante, evitando a profissionalização precoce
* Adoção de novas políticas de assistência estudantil e inclusão do estudante de baixa renda
* Promoção de melhor integração entre a educação básica, graduação e a pós-graduação, incentivando a Pesquisa e Extensão