Fé deve estar calcada na razão

Jornal Diário da Manhã, 30/08/2007

“Fé deve estar calcada na razão”

De acordo com a pesquisa da CBL, em 2005 foram vendidos mais de 19,9 mil exemplares, número que subiu para 21,5 mil no ano passado. O motivo para esse crescimento é explicado pela professora do curso de Biblioteconomia e diretora do Cegraf – UFG, Maria das Graças Monteiro Castro. “As pessoas buscam uma solução divina para seus problemas e, com isso, a venda de livros religiosos e de auto-ajuda aumentam.”
Para Maria das Graças, a análise da expansão deste setor deve ser feita fora dos parâmetros do incentivo ao leitor. “A explosão de igrejas tem também um caráter comercial, presente não somente no mercado do livro, mas em todos os produtos culturais”, alerta. Para ela, ao se aproximar das religiões, as pessoas são convidadas a conhecer melhor seus preceitos e por isso lêem mais. “O objetivo das instituições não é formar leitores, mas doutriná-los”, comenta.
O pastor evangélico Enoque Vieira da Silva, 45, lê uma média de 40 livros por ano e não se restringe a livros religiosos. “Sou um leitor um pouco acima da média”, brinca. No Brasil, cada habitante devora apenas 1,8 livro anualmente, segundo o Ibope. Já a CBL diz que os leitores ativos lêem um livro por mês e correspondem a 30% da população.
Comparado a estes números, Enoque se destaca: seu recorde é de 52 livros em 12 meses. “Leio, acima de tudo, para me informar sobre o que envolve nosso mundo contemporâneo e para saber lidar com as pessoas”, justifica. Entre os títulos de sua biblioteca, livros esotéricos, novelas, ficção, espíritas, literatura, história, e como não poderia deixar de ser, teologia. “Estou sempre atento aos livros mais vendidos de todas as áreas”, diz orgulhoso.
Ao contrário de muita gente, o pastor da Igreja Assembléia de Deus de Campinas acha que a fé não pode restringir o tipo de leitura. “Minha verdade tem fundamentos, não é um suicídio intelectual”, defende. Por isso, ele não se acanha em ler títulos até de outras religiões. “Tenho livros de Kardec em casa. Leio, mas não significa que eu acredite.”

Essência

Assinante de revistas e jornais, Enoque compara sua sede por conhecimento ao nascimento da doutrina protestante. “Lutero, que desencadeou a reforma, colocou a Bíblia na mão do seu povo. A essência evangélica é conhecer o cristianismo”, justifica. Para ele, é preciso tentar compreender cada vez mais a fé, que deve estar calcada na razão e não apenas na emoção. “O leigo também tem essa necessidade de ler”, complementa.
A professora aposentada Ângela Maria de Oliveira Castro, 53, também busca na leitura formas para viver sua fé. “Sempre estou lendo para ver a minha religião dar frutos”, sorri. Católica, ela já foi inclusive catequista. “Os livros nos ajudam a aceitar as coisas que acontecem com a gente e ajudar as pessoas a enfrentar momentos difíceis”, comenta.
Apesar de não devorar obras como o pastor Enoque, Ângela diz que gosta de ler e reler várias vezes a mesma publicação. Na sua cabeceira, está o livro Buscai as coisas do alto. “Ainda não consegui sair da primeira parte. É muito boa e fico relendo”, brinca.