Seca e poluição pioram qualidade do ar em Goiás

Jornal O Popular, 08/09/2007

Seca e poluição pioram qualidade do ar em Goiás

Medições feitas pela Agência Ambiental revelam que concentração de partículas na atmosfera está 147,5% acima da média e pouco abaixo dos níveis ruim/péssimo. Situação ainda pode piorar

Carla Borges

A qualidade do ar na região urbana de Goiânia está no limite entre os níveis inadequado e ruim/péssimo. É o que revelam as medições feitas pela Agência Goiana do Meio Ambiente. O laudo referente às tomadas realizadas nos dias 29 e 30 de agosto e 3 de setembro mostra que a concentração média de partículas na atmosfera da capital era de 198 microgramas por metro cúbico (mg/m³), índice 147,5% acima da média estabelecida em resolução pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) e apenas 2 mg/m³ abaixo do que passa a ser considerado ruim/péssimo, de 200 mg/m³. A ausência de chuva faz a situação caminhar para o nível crítico, que é quando as partículas (de poeira, poluição e fuligem de queimadas, principalmente) atingem a concentração de 240 mg/m³.

“Nesta época do ano, é como se formasse uma bolha, uma ilha de calor em cima da cidade. Os poluentes, como monóxido de carbono, ficam presos dentro desse envoltório”, explica o doutor em Ciências Ambientais Roberto Prado de Morais, professor de Climatologia do curso de Geografia da Universidade Federal de Goiás (UFG). “Se atingirmos o nível ruim, algumas atitudes têm de ser tomadas, principalmente no sentido de alertar a população para os riscos e as atitudes que devem ser tomadas para minimizar os danos provocados pelo clima”, diz o diretor de Ecossistemas da Agência Ambiental, Paulo d’Ávila Ferreira. “O pior é que a temperatura tende a aumentar e a umidade relativa do ar, a cair ainda mais; foi possível perceber essa diferença em setembro, em relação a agosto”, observa d’Ávila.

Entre as medidas, explica o diretor, estão campanhas para incentivar a população a tomar mais água, a usar bacia d’água no quarto à noite e a reduzir o consumo inadequado, como o velho hábito que persiste até os dias de hoje de lavar calçadas. Outro costume abominável, que contribui para agravar a situação, é o de atear fogo ao lixo, à vegetação de lotes vagos e às folhas que caem das árvores secas. A combinação da baixa umidade com a suspensão de grande quantidade de partículas de poeira, fuligem de queimadas e da poluição veicular funciona como uma bomba para as vias respiratórias. Nessa mistura, predominam as partículas emitidas por carros e queimadas. “Temos poucas áreas sem asfalto e muitas impermeabilizadas”, explica d’Ávila.

O professor Roberto Morais observa que, além de esta época do ano ser caracterizada por temperaturas elevadas, a Região Centro-Oeste fica no meio do continente sul-americano, portanto recebe pouca influência das massas úmidas vindas do Oceano Atlântico. “Essas condições geram um aquecimento muito elevado e a evaporação também é intensa. Uma grande massa de ar quente fica estacionada na região”, explica. A esse fator, somam-se a impermeabilização asfáltica e de concreto, que refletem a luz do sol, e a falta de arborização, além das queimadas, que produzem grande quantidade de material particulado. Está pronta a bolha que tanto tem castigado os moradores da Grande Goiânia. “Esses índices devem ser reduzidos com as primeiras chuvas”, observa Morais. As águas das chuvas levam as partículas de volta à superfície.