Trabalho é o grande vilão do bom sono
Jornal Diário da Manhã, 16/09/2007
Trabalho é o grande vilão do bom sono
Eva Taucci
Da editoria de Economia
A jornada de trabalho é o fator que tem maior impacto sobre a quantidade de sono. Essa é a descoberta de uma pesquisa norte-americana publicada na revista científica Sleep, que afirma que quanto mais a pessoa se dedica ao trabalho, menos dorme. Na seqüência, os vilões do sono são o tempo gasto no trânsito ou no transporte público e as horas de lazer. O estudo ouviu 50 mil americanos entre os anos 2003 e 2005.
Especialistas em sono dizem que o homem está perdendo suas horas de descanso. “A tecnologia moderna não fez nada para aumentar nosso tempo livre, e o sono acaba sendo uma vítima em quantidade e qualidade”, alega Jessica Alexander, da organização The Sleep Council, que repercutiu a pesquisa.
O professor doutor Luiz Signates, da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Goiás (UFG), dorme em média de quatro a cinco horas por noite. Isso porque vai se deitar usualmente entre uma e três da madrugada, e acorda por volta das seis e meia da manhã. Com uma vida profissional bastante atribulada, ele alega que não consegue fazer uma coisa de cada vez. “Sempre me envolvo em várias atividades e responsabilidades ao mesmo tempo”, afirma.
O professor diz que sente dificuldade em se levantar todas as manhãs. “Como uso o celular como despertador, costumo programá-lo para chamar meia hora antes e colocá-lo no “soneca”, para que eu vá me acordando aos poucos”, conta. À noite, afirma que raramente sente sono. “Esta é a hora que meu trabalho intelectual tem seus melhores resultados”, garante Signates.
Apesar de achar que dorme menos do que o corpo solicita, o professor afirma que se sente disposto durante o dia. “Não sei bem porque cresci com a idéia de que o tempo da vida é um recurso único e irrecuperável. Entretanto, neste estágio de minha vida, já começo a sentir necessidade de ir mais devagar e dar mais chance ao ócio absolutamente improdutivo”.
O neurologista, psiquiatra e professor Marcelo Hana, da Faculdade de Medicina da UFG, afirma que grande parte da sociedade dorme menos do que precisa para descansar, privando assim parte do sono. “Estudos comprovam que o adulto moderno dorme, em média, uma hora e meia a menos que o adulto do início do século 20. O adolescente de hoje chega a dormir até duas horas menos que o adolescente da década de 20”, pondera.
Marcelo Hana alerta a população para a síndrome do sono insuficiente, que é realizada de modo voluntário. “Quando a pessoa aumenta sua jornada de trabalho, leva trabalho para casa, deita-se na cama para dormir e ao invés disso vai ler relatórios, ela, por conseqüência, está diminuindo a sua quantidade de horas dormidas numa noite”, salienta o médico. Ele alega que enquanto essas atividades estão sendo realizadas, o corpo libera substâncias químicas e hormônios que interferem no relaxamento, tais como a adrenalina.
Não há uma regra geral sobre a quantidade de horas de sono que a pessoa deve ter durante a noite. Marcelo alega que isso varia de pessoa para pessoa. “Os recém-nascidos dormem em média 18 horas por dia; os adultos, entre sete e nove; e os idosos, seis horas. A quantidade ideal é aquela em que a pessoa não sente sonolência e cansaço em excesso no dia seguinte”, pondera.
Se a jornada de trabalho não pode ser reduzida, o médico dá dicas para que a pessoa consiga melhorar a qualidade do sono, e assim, proporcionar descanso satisfatório ao corpo, por exempo: não fazer atividades físicas perto do horário de dormir, nem ingerir refeições pesadas.