Número ficará desconhecido, diz antropóloga

Jornal O Popular, 19/09/2007

Número ficará desconhecido, diz antropóloga

A quantidade de pessoas atingidas pelo acidente com o césio 137 jamais será um número exato, acredita a professora Telma Camargo da Silva, Ph.D. em Antropologia, que acompanha os grupos de vítimas há 20 anos. “É impossível precisar o número de atingidos pelo desastre. Há grupos de pessoas que não querem se identificar dessa forma porque ainda há um estigma grande de que o contato direto com o césio foi feito por catadores de papel e famílias de baixo poder aquisitivo e pouca instrução”, avalia Telma, citando entre os que refutam a ligação com o acidente profissionais como médicos que atenderam os radioacidentados e vizinhos das áreas atingidas.

Em seus trabalhos, Telma busca desmistificar que o acidente foi vivenciado apenas por essas pessoas. “Querer reduzir o desastre aos catadores é o mesmo que pôr a culpa nas vítimas”, avalia a professora, que atualmente é voluntária na UFG, onde coordena o projeto Sistematização do Patrimônio Cultural Imaterial de Goiás. Telma alerta que o trauma que acompanha as vítimas deve ser encarado como uma ocorrência de saúde. Para ela, as autoridades só farão justiça às vítimas quando entre os critérios for incluído o conceito de sofrimento social. “A partir do momento em que as vidas dessas pessoas foram alteradas pelo trauma, por um estigma, elas estão passando por um sofrimento social. E esse sofrimento é intensificado a partir do momento em que a memória das vítimas é negada”, analisa.

Telma observa que a própria dor física das vítimas no período em que fez análise para sua pesquisa, de 1987 a 1997, era questionada e classificada por médicos como problema psicológico. “Como se problema psicológico não fosse problema de saúde”, indigna-se.