Uso de antidepressivos
Jornal Diário da Manhã, 19/09/2007
Uso de antidepressivos
Para o psiquiatra Paulo Verlaine, a tristeza é um sentimento normal e pode ser positivo a partir do momento que o indivíduo utiliza-o para refletir e encontrar soluções para os problemas. Mas alerta que quando ganha intensidade e causa sofrimento, passa a ser depressão. “É uma doença grave diagnosticada pela psiquiatria.” O médico lembra que há 2,5 mil anos, Hipócrates, pai da Medicina, já relatava casos de depressão com o nome de melancolia.
A dona de casa Wanda Lúcia Laje Silva, 61, usa antidepressivos há mais de dez anos. A morte do marido foi um dos fatores desencadeantes que a levaram a tomar remédios para amenizar a dor da perda. “O efeito da droga me ajuda a ficar mais calma e descansa, além do meu corpo, a mente também. Segundo ela, os antidepressivos funcionam como pílulas da felicidade. “Só assim me sinto melhor e de bem com a vida.”
O antidepressivo, identificado como a pílula da felicidade, está entre os cinco medicamentos mais vendidos no mundo. No Brasil, as drogas têm a venda controlada e só podem ser comercializadas com receita azul, que deve ser retida na farmácia. De acordo com o psiquiatra Raphael Boechat, da Universidade de Brasília (UnB), antidepressivo é chamado de pílula da felicidade porque é capaz de trazer a alegria perdida por causa da depressão. Especialistas alertam que os antidepressivos não devem ser usados de maneira indiscriminada, nem por tempo prolongado. O abuso desses provoca efeitos colaterais indesejáveis, como alterações do peso e do apetite, sintomas gastrointestinais e cardiovasculares.
Segundo o psiquiatra Lúcio Malagoni Cardoso, da UFG, o tratamento da depressão, em geral, varia de oito a doze meses; porém, algumas pessoas apresentam depressão recorrente e terão que utilizar a medicação por tempo mais longo.
UNANIMIDADE
O psiquiatra Lúcio Malagoni Cardoso, representante do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG), considera que as pílulas não são ministradas de maneira abusiva no Brasil e ressalta que apenas 25% a 50% dos deprimidos procuram ou recebem ajuda médica, e porcentagem menor chega ao psiquiatra, que tem a maior probabilidade de fazer o diagnóstico correto.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que 12% da população sofre de transtornos psiquiátricos. Destes, 3% são considerados severos e persistentes e 9%, comuns. A prevalência gira em torno de 15% nos homens e 25% nas mulheres. Segundo o órgão internacional, 10% a 20% das pessoas terão depressão em algum momento de suas vidas.
A enfermidade não pode ser confundida com uma tristeza profunda. A OMS calcula que em 2020 a depressão será a segunda causa de incapacitação no planeta, atrás apenas das doenças cardíacas.