Córregos agonizam com estiagem prolongada e lixo

Jornal O Popular, 20/09/2007

Córregos agonizam com estiagem prolongada e lixo

Ricardo Rafael

Com vazão reduzida, Córrego Areião já tem pontos secos

Carla de Oliveira

Um dos impactos da falta de chuva nos últimos meses pode ser visto nos córregos e rios de Goiânia, que já apresentam baixos níveis de água. Apesar da redução de volume ainda estar dentro da média considerada normal para a época, a situação começa a preocupar em alguns mananciais. Com o nível mais baixo, o lixo depositado no fundo dos rios fica à mostra, revelando a poluição que degrada os cursos d´água e compromete sua qualidade. Em vários pontos da capital é possível observar os efeitos da estiagem prolongada.

As situações do Ribeirão Anicuns e do Rio Meia Ponte são consideradas as mais críticas pelo gerente de Monitoramento Ambiental da Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma), Ramiro Menezes. No Meia Ponte, diz, é possível perceber a formação de pequenas ilhas em alguns pontos. Além disso, o nível de oxigenação em trechos do Rio Meia Ponte é crítico, chegando a 0,9 quando o ideal é 5. Já no Anicuns, lixo e esgoto ameaçam a sobrevida do ribeirão.

No Córrego Areião, que abastece o lago do Parque Areião, a vazão da água foi reduzida, apresentando pontos completamente secos. Segundo Ramiro, a estiagem revela outro grande problema: a contaminação dos mananciais, já que a quantidade de água diminuiu, mas o lançamento de lixo e esgosto, não. Ramiro avalia que a situação, em 2007, é pelo menos 30% pior do que a do ano passado.

Na região do Setor Santa Rita, diz, o Córrego Capão da Mata sofre com os desvios de água e alguns deles já secaram. O gerente da Amma assinala que a deposição de lixo e o lançamento de esgoto pioram a situação dos mananciais na época de seca. A fiscalização, diz, não é suficiente para resolver o problema. O que é preciso, aponta, é a conscientização da população.

Dentro da média
O gerente de Proteção de Mananciais da Saneamento de Goiás (Saneago), Henrique Luiz de Araújo Costa, afirma que, nesta época, ocorre uma baixa natural nos níveis dos mananciais. A situação, explica, está dentro da média normal e longe da vivenciada em 1999, quando 86 cidades goianas enfrentaram dificuldades de abastecimento, devido a uma redução de cerca de 50% na produção.

Mesmo com o abastecimento sob controle, ele alerta que é preciso fazer uso racional da água, já que o consumo está mais de 30% acima do registrado em outros períodos devido ao forte calor. A redução no volume de água dos rios, frisa, é conseqüência de uma série de fatores, como desmatamentos, pastagens degradadas, queimadas e erosões, que dificultam a absorção da água pelo solo.

Coordenador do Laboratório de Análises e Gerenciamento de Recursos Hídricos da Universidade Federal de Goiás (UFG), o professor Leandro Gonçalves Oliveira explica que a ocupação desordenada das áreas urbanas dificulta a infiltração da água no solo. Segundo ele, o problema com córregos secos ou com pouca água ocorre por todo o País. O professor destaca que o problema da redução dos níveis dos rios não é meramente climático, mas provocado principalmente pela ocupação desordenada.