Rede pública encolhe, particular cresce
Jornal O Popular, 22/09/2007
Rede pública encolhe, particular cresce
Pnad mostra que, de 2005 para 2006, escolas públicas perderam em Goiás 19 mil alunos e particulares ganharam 39 mil. Melhoria da renda pode ter favorecido migração
Maria José Silva e Marcondes Franco Filho
Em apenas um ano, as escolas públicas localizadas em todo o Estado perderam 19 mil estudantes. Enquanto isso, no mesmo período, os estabelecimentos particulares ganharam 39 mil novos alunos. Dados da Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que a diminuição gradual de pessoas matriculadas no ensino público ocorre desde o início da década e assume contornos mais acentuados se relacionada a períodos maiores. O último Censo Escolar, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) no início do ano, revela uma queda de 18,7% no número de salas de aulas na rede pública de ensino.
O estudo do IBGE revela ainda que a diminuição de estudantes na rede pública aconteceu com mais intensidade na pré-escola e ao longo do ensino fundamental. No ensino médio foi registrado um aumento de pelo menos 7 mil pessoas matriculadas entre 2003 e 2006. Profissionais que atuam na área de educação atribuem o decréscimo de alunos no setor público a uma série de fatores, entre eles o aumento da renda familiar, que teria provocado a migração para a escola particular, a evasão, a universalização do ensino fundamental ao longo das últimas décadas, que deixou poucos alunos fora da sala de aula, e a diminuição no tamanho da família brasileira (em especial as de menor renda), resultante das ações de conscientização para o planejamento familiar.
Censo
Essa é a opinião do professor Nelson Cardoso do Amaral, assessor da reitoria da Universidade Federal de Goiás (UFG) e especialista em educação superior. De acordo com ele, censo do IBGE divulgado recentemente mostrou “uma estabilização do número de filhos das famílias brasileiras de poder aquisitivo mais baixo e, menos filhos nesse segmento, pode ter significado também a redução de alunos na escola pública”, diz.
Nelson Amaral afirma que a melhoria da renda familiar, apontada pelo IBGE, pode ter provocado a migração da rede pública para a particular. “Podemos apontar ainda como causa o estigma de que os níveis fundamental e médio são melhores na escola particular e o ensino superior tem mais qualidade numa instituição pública.”
Professor da Faculdade de Educação da UFG, João Ferreira de Oliveira endossa a tese de que o processo teve dois caminhos distintos. Primeiro, o empobrecimento da classe média levou as famílias a optarem pela escola pública. Agora, com o aumento da renda, acontece o movimento inverso. “Mas há ainda o fato de que o número de alunos no nível fundamental na rede pública era superestimado, fictício. Hoje, com os recursos vinculados ao número de alunos, estes estão sendo contados de forma mais eficiente.”