Cadê o leitor?
Jornal O Popular, 23/09/2007
Cadê o leitor?
Wagnas Cabral ![]() Maria das Graças: falta uma política para as bibliotecas |
Especialista diz que baixa freqüência de usuários nas bibliotecas públicas do Estado é conseqüência da falta de infra-estrutura e dos acervos poucos atraentes
Edson Wander
Para a professora de Biblioteconomia da UFG, Maria das Graças Monteiro Castro, a baixa freqüência de público que as bibliotecas estatais goianas exibem é “aterradora” e mostra o descaso e a falta de políticas públicas para o setor. Segundo a professora, especialista na área de biblioteconomia social e educacional, existe a demanda, mas as bibliotecas públicas não dispõem de infra-estrutura e acervo atraentes ao leitor. “Livro didático não estimula a leitura intertextual”, diz ela, falando sobre o acervo e a caracterização das bibliotecas públicas de Goiás como espaço predominantemente de pesquisas escolares.
Segundo ela, neste setor está tudo por fazer e deveria ser bem diferente do modo com que o poder público executa. “Montam-se prédios com algum acervo de doação, aqueles livros encalhados que as pessoas têm em casa e não sabem o que fazer com ele”, critica Maria das Graças. “Faltam acervo, recursos humanos, dotação orçamentária própria”, complementa ela, que é também consultora na área e diretora da Editora UFG.
Maria das Graças, no entanto, também credita à sociedade uma parcela da responsabilidade sobre a situação precária das bibliotecas públicas. Para ela, o problema não é só de governo, já que a sociedade brasileira de forma geral tem o livro como um objeto “sacralizado”. “É aquela situação em que todo mundo acha importante, mas poucos compram, poucos cultivam como hábito. Estamos num país em que passamos da tradição oral para o audiovisual, pulamos o domínio e cultivo da escrita”, teoriza.
Internet
Convidada a falar da chegada da tecnologia nas bibliotecas, Maria das Graças diz que computador e internet são suportes adicionais de informação. Ela discorda da tese de que a internet desestimula a pesquisa em livros. “Não é verdade, aceitar isso é confundir causa e efeito. Meus filhos só vão para a internet quando não acham o que precisam no livros”, diz ela, observando que “bibliotecário tem de ser também educador”.
“É preciso não esquecer também que computador e livro, neste caso, se valem da mesma linguagem, que é o texto”, afirma. Para a professora que leciona em uma das duas ênfases de ensino da Faculdade de Biblioteconomia da UFG (a outra é de caráter organizacional, voltada para empresas, institutos, etc.), o País só mudará as bibliotecas públicas quando tratá-las como objeto de planejamento longo e duradouro. “Mas o problema é que isso não dá visibilidade política”, lamenta.