Pública, mas não gratuita
Jornal Diário da Manhã, 24/09/2007
Pública, mas não gratuita
Hacksa Oliveira e Wanda Oliveira
Da editoria de Cidades
Entrar em uma universidade pública brasileira não quer dizer que o estudante terá isenção total de despesas. Na prática, existem custos. As instituições de ensino superior cobram de um grupo significativo de alunos taxas não previstas pelas leis brasileiras. Para manter-se em determinados cursos, existem alunos que pagam, em média, R$ 5 mil por semestre. Isso significa que quem estuda em faculdade federal ou estadual precisa disponibilizar de certa poupança para concluir o curso desejado. A principal justificativa para esta cobrança é que o governo não tem recursos suficientes para sustentar as universidades públicas.
Situação como esta acontece com os futuros odontólogos que deixarão as salas de aula da Universidade Federal de Goiás (UFG). Eles reclamam que os custos ultrapassam o esperado. O estudante Marcondes Sena Filho, 22, do terceiro ano de Odontologia da UFG, contesta e não entende por que os alunos precisam pagar taxas para ter acesso aos laboratórios, principalmente pelos materiais de uso individual. “Na verdade, pelo desejo de aprender e formar, acabamos aceitando.” Ele conta que só após uma manifestação ao Ministério Público (MP) foi que a universidade concedeu, pelo menos, materiais de higienização, como papel toalha e sabonete, aos alunos do curso.
Os problemas não param por aí. Outro fator que preocupa os alunos é a questão da compra do campo operatório – tecido utilizado para não sujar o paciente. Marcondes explica que esse material é de uso obrigatório e custa, em média, de R$ 150. Naiara de Paula Ferreira, 21, também aluna do curso de Odontologia, revela que todos os alunos foram obrigados a comprar este tipo de material; no entanto, há mais de mês os alunos não têm acesso a ele. “Quando chegamos à sala de cirurgia para utilizar os materiais, há uma lista de quem pagou. Aqueles que ainda não pagaram deixam de participar das aulas. Isso é humilhante.”
Segundo o professor e coordenador da graduação em Odontologia, Mauro Machado, para se formar em Odontologia na UFG o estudante desembolsa durante cinco anos cerca de R$ 15 mil. Ele explica que o curso é dividido em três fases que necessitam de equipamentos, instrumentos e materiais.
O coordenador diz que em uma delas a UFG oferece materiais como cadeiras, unidades auxiliares, foco, raio X e outros que fazem parte da estrutura do ambulatório. Já instrumentos como caneta de micro e baixa rotação têm que ser adquiridos pelos próprios alunos e custam cerca de R$ 300. “Espelho, limas e brocas odontológicas também devem ser comprados pelos alunos.” Cada item deste varia entre R$ 3 mil e R$ 5 mil. “São instrumentos de uso individual; os alunos adquirem e serão utilizados no próprio consultório.”
De acordo com o coordenador, o custo do curso é alto. Ele cita que um dos motivos é a fabricação dos instrumentos, que, na maioria dos casos, é realizada no exterior. A UFG oferece cerca de 60 ambulatórios para os alunos de Odontologia. De acordo com Machado, em relação às faculdades de outras capitais, Goiânia está bem à frente. “Podemos afirmar que são pouquíssimos os instrumentos exigidos aos alunos.” Ele diz que a instituição tem o interesse de doar os instrumentos de estágio, mas não disponibiliza de verbas suficientes.
Machado afirma que o papel toalha, sabonete e luva, entre outros, os alunos ganham. Quanto ao tecido, ele afirma que realmente os estudantes são obrigados a comprar. Para Marcondes Sena Filho, esse déficit de material é vergonhoso e caso o aluno não compre, não pode usar o laboratório de esterilização. “É uma extorsão. Não é justo porque a cobrança é feita por funcionários da faculdade, que não apresentam notas fiscais da compra e ainda pressionam os alunos.” A estudante Naiara diz que o Sistema Único de Saúde (SUS) repassa mensalmente uma verba para o ambulatório.