Descanso na dose certa
Jornal Diário da Manhã, 25/09/2007
Descanso na dose certa
Renato Rodrigues
Wanda Oliveira
DA EDITORIA DE CIDADES
Dormir pouco pode causar problemas à saúde. Em excesso, pode também. O sono na medida certa equilibra o corpo e mente e garante o bem-estar, informa estudo realizado pela University of Warwick e pela University College London, ambas da Grã-Bretanha. A pesquisa avaliou o padrão de sono e as taxas de mortalidade de 10.308 funcionários públicos britânicos e mostrou que naqueles que no decorrer do ano foramdiminuídas as horas de sono de sete para cinco horas dobrou o risco de sofrer algum problema cardiovascular fatal em relação aos que mantiveram a rotina de dormir sete horas.
A pesquisa, que será apresentada em um encontro da Sociedade Britânica de Estudos do Sono naquele país, é baseada em dados coletados entre 1985 e 1988 e novamente apurados em 1992 e 1993. De acordo com o levantamento, os pesquisadores incluíram como fator de análise a idade, o sexo, estado civil, grau de emprego, tabagismo e prática de atividades físicas. Foram considerados esses fatores para isolar o efeito que as mudanças em padrões de sono em um período de cinco anos têm sobre as taxas de mortalidade entre 11 e 17 anos depois.
Entre os trabalhadores que passaram a dormir menos, o número de problemas cardiovasculares fatais dobrou. As chances de morte também aumentaram 1,7 vez. Curiosamente, os estudiosos também descobriram que indivíduos que aumentaram seu período de sono para oito horas ou mais por noite elevaram em duas vezes ou mais a chance de morrer.
Segundo um dos pesquisadores, Neil Staney, especialista do Hospital Universitário de Norwich e Norfolk, a necessidade do sono é como a altura ou o tamanho do sapato: cada um tem o seu. O psiquiatra e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG) José Reinaldo do Amaral também concorda. Segundo ele, os indivíduos são diferentes e cada um apresenta quadros físicos e psicológicos singulares. Assim, é difícil afirmar se dormir muito ou pouco pode trazer prejuízos para a saúde.
O médico explica que a faixa etária é um dos fatores principais que determinam a quantidade de horas dormidas. Cita que um recém-nascido, por exemplo, dorme, em média, 18 horas por dia em horários variados. Após acostumar com o hábito de dormir à noite e permanecer acordado durante o dia, ainda na infância, a criança dorme em média 12 horas até atingir a adolescência, enquanto em jovens e adultos a média é de oito horas. Já os idosos são os que dormem menos, cerca de cinco horas por noite.
José Reinaldo diz que a estrutura psicológica do indivíduo também interfere no sono. “Em geral, as pessoas otimistas e mais centradas dormem menos, ao passo que aquelas mais ansiosas ou pessimistas necessitam de mais horas de sono.” Afirma que o sono auxilia na reposição psicológica e física. Por isso, pessoas com maior incidência de dependências psicológicas ou que realizam maior quantidade de atividades no dia, como as que praticam exercícios, devem dormir mais para manter o equilíbrio do corpo.
Trabalho
O auxiliar de enfermagem Jonivan Fernandes, 32, aos pouco retoma a carga horária normal que tinha antes de ingressar no mercado de trabalho. Há um mês reduziu o número de plantões na área de saúde para dedicar-se aos estudos e ao lazer. Com a mudança, consegue dormir, em média, seis a oito horas por dia. Ele conta que durante três anos consecutivos fez plantões 24 horas – 12 horas em uma unidade e mais 12 horas em outra – e por causa do trabalho dormia muito pouco, às vezes, nem conseguia “pegar” no sono na folga.
De acordo com ele, a privação do sono lhe deixava mal humorado e estressado. “Não descansava o necessário e logo iniciava o plantão em outro hospital.” Atualmente, Jonivan trabalha 12 horas diurnas com direito a folgar 12 horas noturnas. Apesar da redução da carga horária, diz que ainda sente dificuldades para dormir.
Médicos alertam para o fato de que a privação do sono sempre pode causar cansaço, irritação, fadiga e déficit de atenção, além de enfermidades cardiovasculares. Não há um número exato de tempo ideal de sono para cada idade. De modo geral, pode-se dizer que a partir de cinco horas por noite há uma sensação de repouso.