Morre Lizandro Vieira da Paixão

Jornal Diário da Manhã, 25/09/2007

Morre Lizandro Vieira da Paixão

Douglas Branquinho
DA EDITORIA DE CIDADES

O médico Lizandro Vieira da Paixão, 82, faleceu ontem em Goiânia por volta das 14h30. Ele, que atuou como ativista político no Estado, sofria de problemas cardiorrespiratórios. Ex-deputado federal eleito no governo João Goulart e cassado durante o período da ditadura militar, também comandou o extinto Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários (IAPC), foi dono da Rádio Jornal de Goiás e a fez chegar ao primeiro lugar em audiência, além de ter comandado a Caixa Econômica Federal em Goiás.

O corpo de Lizandro está sendo velado no cemitério Jardim das Palmeiras. O sepultamento está previsto para às 12 horas de hoje. O médico e político deixa seis filhos. Ele também teve forte atuação na Educação e foi um dos fundadores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG), onde se aposentou como professor. Foi sócio dos hospitais São José e Santa Genoveva.

Em entrevista concedida ao Diário da Manhã há três anos, o ex-deputado dizia que a política, sua grande paixão, não trilhou os caminhos que ele entendia serem os corretos quando resolveu entrar para o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e seguir o passo de Getúlio Vargas, ditador e presidente eleito do Brasil que deixou o poder de forma trágica após dar um tiro na própria cabeça em pleno palácio do governo. Chegou a ser cotado para ser o candidato de Jango pelo PTB ao governo de Goiás. Porém a ditadura o impediu e fez com que se retirasse da política pelo resto da vida.

O médico foi um dos poucos perseguidos e cassados políticos que nunca receberam a indenização paga a essas pessoas. Ele ainda lamentava a falta de líderes como Brizola, de quem foi amigo e teve como exemplo de coerência política.

Ditadura

Por estar sempre em oposição ao regime militar, Lizandro acabou na lista negra dos militares. Conquistou, em concurso público, vaga de professor de Medicina na UFG, mas teve posse cassada pelo Serviço Nacional de Informação (SNI). A ditadura também fez questão de apagar os rastros do médico – e talvez seja mesmo por isso que poucos leitores se lembram dele. Uma das táticas mais maliciosas: retiraram o nome de Lizandro da placa de inauguração do Hospital do Câncer. Na época, o vice-presidente da instituição merecia também ser perpetuado na solenidade.

Os militares permitiram apenas a especificação do doutor no Hospital Araújo Jorge. O golpe fatal ocorreu com o decreto de 9 de outubro de 1964, em que o regime militar passava a banir o deputado de todas atividades sociais e políticas do Brasil. Também pudera, na Câmara dos Deputados, Lizandro dizia que foi o único goiano a não bater continência para o regime que se instalava.