Sonho cada vez mais próximo

Jornal O Popular, 01/10/2007

Sonho cada vez mais próximo

Quinze anos após o nascimento dos primeiros bebês de proveta goianos, técnica está mais avançada e mais eficiente

Rosane Rodrigues da Cunha

Os gêmeos Pablo e Patrick Melo Santana completam 15 anos no próximo dia 10. Poderia ser mais um aniversário comum de dois adolescentes, mas, nesse caso, as comemorações não serão restritas à família e aos amigos dos estudantes, que cursam a 8ª série. O aniversário dos gêmeos, nascidos prematuramente em outubro de 1992, em um hospital de Goiânia, celebra também uma vitória da medicina no Centro-Oeste e, principalmente, em Goiás. É que os goianienses Pablo e Patrick são os primeiros bebês nascidos na região com o uso da técnica de fertilização in vitro, uma evolução da ciência que vem possibilitando a homens e mulheres com problemas de fertilidade a realização do sonho de terem filhos.

De lá para cá, as chances de sucesso no tratamento que permite aos casais terem filhos cresceram de 15% para 50%, conforme afirma o médico Luiz Augusto Antônio Batista, pioneiro em Goiás na área de reprodução assistida e integrante da equipe que acompanhou a gestação dos primeiros bebês de proveta goianos. A melhoria dos resultados é atribuída pelo médico, principalmente, aos avanços no tratamento para a indução da ovulação da mãe biológica e também ao desenvolvimento das técnicas laboratoriais. Isso, conforme sustenta, tem permitido a seleção de óvulos e espermatozóides com mais chances de formarem os embriões que serão implantados no útero da mãe.

A possibilidade de congelamento de embriões excedentes é outro avanço na área de reprodução assistida citado por Luiz Augusto. Logo após a descoberta da técnica de fertilização in vitro, o congelamento ainda era uma utopia. Com isso, os embriões obtidos eram transferidos juntos para o útero, o que, muitas vezes, resultava em gestações múltiplas, com o nascimento de gêmeos, trigêmeos ou mais bebês.

Foi o caso da auxiliar de enfermagem Valéria Pina de Melo, mãe de Patrick e Pablo. Submetida ao tratamento, Valéria, então com 29 anos, recebeu três embriões. Os três desenvolveram-se, mas a menina Paola não resistiu ao nascimento prematuro. “Hoje, o casal pode optar pela transferência de apenas um embrião e congelar o excedente”, explica o médico, ressaltando que os embriões conservados em botijões de nitrogênio líquido podem ser usados posteriormente em outra gestação do casal, serem doados a mulheres que não podem ter filhos ou mesmo para pesquisas com células-tronco. Os embriões podem permanecer congelados por tempo indeterminado, à disposição dos pais biológicos.

Diagnóstico
“A chance do uso de células embrionárias em pesquisas é outro importante avanço da medicina”, afirma o médico Mário Approbato, doutor em reprodução humana e coordenador do Laboratório de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG). Mário cita mais uma conquista da medicina no campo da fertilização in vitro. “O diagnóstico pré-gestacional”, diz, referindo-se ao PGD (sigla em inglês para Diagnóstico Pré-Gestacional), a técnica que permite a análise laboratorial de embriões antes da transferência para o útero, a fim de identificar alterações genéticas que podem causar doenças, como fibrose cística e anemia falciforme.