Ensino médio atende só a 47% dos jovens

Jornal O Popular,29/09/2007

Ensino médio atende só a 47% dos jovens

Segundo IBGE, menos da metade dos alunos entre 15 e 17 anos cursavam o antigo segundo grau em 2006.  Ensino fundamental chegou a 95,6% no mesmo ano

Carla Borges

Menos de metade dos jovens de 15 a 17 anos está cursando o ensino médio no Estado de Goiás. Apenas 47,9% dos estudantes nessa faixa etária estavam matriculados nas três séries do antigo segundo grau no ano passado, número que contrasta com o do ensino fundamental, onde 95,6% das crianças e adolescentes de 7 a 14 anos freqüentavam as salas de aula no mesmo período. Os dados são da Síntese dos Indicadores Sociais 2007 - Uma Análise das Condições de Vida da População Brasileira, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A média goiana é 0,8 ponto porcentual maior do que a brasileira, tanto no ensino médio (47,1%) quanto no ensino fundamental (94,8%).

“Quando sai do ensino fundamental, o aluno se vê diante de um funil, já que a pequena oferta de escolas de nível médio dificulta a continuidade dos estudos”, analisa a professora Maria Margarida Machado, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás (UFG), especialista em educação de jovens e adultos. Ela lembra que os pais dos estudantes, que geralmente não são assalariados formais, encontram dificuldade até para bancar o transporte do filho para uma escola em outra região da cidade. Aliado a esse fator, Margarida aponta que muitos adolescentes buscam o mercado de trabalho informal, em feiras e armazéns, por exemplo. Isso é freqüente também no interior do Estado, onde é freqüente o uso da mão-de-obra de jovens no campo.

Há outros motivos que levam os jovens a abandonar, ainda que temporariamente, a sala de aula. Carla Nascimento Santos, de 18 anos, deixou de freqüentar o terceiro ano do ensino médio no final do semestre passado por causa da gravidez. Bolsista, ela poderia perder o benefício porque optou por ficar pelo menos seis meses depois do parto cuidando exclusivamente do filho Ian, cujo nascimento está previsto para 23 de outubro. “Seria complicado terminar o ensino médio e deixá-lo, recém-nascido, aos cuidados de outra pessoa. Só quero fazer isso depois dos seis meses, quando ele não mamar exclusivamente em mim”. Carla faz planos de retomar os estudos no ensino médio, fazer vestibular e cursar uma graduação. “Foi uma pausa momentânea”, define.

Desencanto
Os números do IBGE refletem um fenômeno subjetivo, mas real: o desencanto, pelos jovens, com o significado do ensino médio no País. “O formato dos últimos 15 anos tem sido apenas de preparatório para o vestibular, mesmo nas escolas públicas. Ele perdeu aquela característica de formação humana”, alerta Margarida. Os jovens, com a característica do imediatismo inerente à idade, começam a se questionar sobre a utilidade do ensino médio, principalmente entre os que não vislumbram a possibilidade de fazer um curso superior a curto prazo. “A escola precisa ter outro sentido”, alerta a professora da Faculdade de Educação.