DemitINDO o gerundismo
Jornal Diário da Manhã, 06/10/2007
DemitINDO o gerundismo
Antônio Erasmo
da editoria do dm revista
Virou uma praga! Qualquer um pode estar viciando nessa prática de estar unindo dois ou mais verbos, em tempos diferentes, que sempre vão estar terminando com uma ação no gerúndio. Secretárias, telefonistas, chefes de Estado, atendentes de call centers e até professores estão usando o “gerundismo”. Na semana passada, o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), esteve assinando um decreto que demite o gerúndio de todos os órgãos do governo local. Professores de Lingüística não aprovam a atitude.
A origem dessa prática no Brasil teve início quando os manuais de atendimento dos serviços de call centers foram traduzidos do inglês para o português, de forma imprópria. Ao pé da letra, a terminação verbal “ing” da língua estrangeira corresponde basicamente ao “ndo” do gerúndio dos verbos da Língua Portuguesa, que, depois de associado a mais uma ação, torna-se na forma denominada gerundismo. Assim que foi pronunciado por uma autoridade aqui, outra celebridade acolá e várias vezes ouvido pelo telefone, esse uso pouco correto caiu na boca do povo.
UsaNDO
Paulo Eduardo Costa, 26, técnico em informática, já fez muito uso do gerundismo quando trabalhou um ano e dois meses em uma empresa de telefonia em Goiânia. Ao atuar no serviço de call center, ele atendia, em média, 200 pessoas por dia. Depois de tantas ligações, via-se obrigado a pronunciar termos como “vamos estar verificando” e “pode estar retornando”, na falta de expressões mais diretas.
O sistema lingüístico do português aceita construções do tipo “Quando você chegar em casa, eu vou estar dormindo”, uma vez que dormir é um estado durativo. São consideradas inadequadas construções do tipo “Vou estar transferindo a ligação”. A transferência é uma ação acabada, imediata, não durativa. É o que explica a professora doutora em Lingüística Vânia Cristina Casseb Galvão, do Departamento de Estudos Lingüísticos e Literários da Faculdade de Letras da UFG.
Paulo Eduardo conta que funcionários da empresa de telefonia são estimulados a pronunciar o mínimo de expressões possíveis no gerúndio. Para evitar falas com ações prolongadas, há treinamento de atendentes na intenção de eliminar os chavões e a ineficiência dos serviços prestados. “Isso já virou um vício de linguagem entre as pessoas. Não é fácil deixar de falar”, assume.