Crianças goianienses estão acima do peso

Jornal Diário da Manhã, 11/10/2007

Crianças goianienses estão acima do peso

Thatiane Rocha Abreu
thatianerocha@dm.com.br
Da editoria de Cidades

A obesidade atinge hoje 40% da população adulta brasileira. Mas essa estatística tem crescido entre as crianças e adolescentes. O último levantamento do Ministério da Saúde mostra que hoje no Brasil cerca de 22% das crianças entre 6 e 10 anos estão obesas.
Em Goiânia, pesquisa da Universidade Federal de Goiás (UFG) mostra a alta associação entre obesidade e hipertensão. O levantamento, em que foram avaliadas 578 crianças entre 3 e 10 anos da região sudoeste e leste da capital através do Programa Saúde da Família, aponta que 10,9 % das crianças estavam obesas e 11,2% tinham sobrepeso. A hipertensão foi observada em 18% dos casos, sendo que 9,3% eram pré-hipertensas e 9,3% hipertensas.
O alto índice levou pesquisadores a avaliarem o perfil da família das crianças. Na avaliação foi notado que 71,4% das crianças têm avós hipertensos, 7,1% mães hipertensas e 14,3% têm pais com problemas de pressão alta. Luiz Henrique de Freitas Júnior, 7, faz parte das estatísticas. É uma criança que está com 25 quilos acima do peso, e a mãe, a auxiliar de caixa Marília Camargo, 42, se esforça para ajudá-lo no tratamento.
Além de ter levado o filho a uma endocrinopediatra, ele foi também a uma nutricionista e a uma psicóloga. “Tenho feito bem todo o tratamento, e desde que comecei já perdi cerca de cinco quilos”. A mãe conta que é difícil ter que privar o filho de coisas que ele gosta por ser criança, como bolacha recheada, mas diz que passou a comprar apenas uma vez por mês. “Procuro não esquecer que ele é criança e não adulto. Nós temos feito de tudo para ajudá-lo e acompanhá-lo na mudança alimentar”. Um grande aliado na perda de peso, segundo a mãe, é a prática do futebol.

Aumento
Especialista em obesidade infantil da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Mauro Fisberg é um dos conferencistas no XI Congresso Nacional de Pediatria que acontece em Goiânia até o dia 12. Ele afirma que o aumento do número de crianças obesas começou há 30 anos.
Segundo ele, isso é um reflexo do histórico familiar, já que a criança que pertence a família obesa tem 50% de chances de ser um adulto obeso também. Ele diz que os números acompanham todas as fases da criança. Por exemplo, se no primeiro ano de vida a criança tiver obesidade, terá cerca de 16% a 17% de chances de ser obesa. Se a obesidade aparecer na idade da pré-escola, terá 30% de chances de ser obesa na idade adulta. E se for na adolescência, a probabilidade chega 80%.
Para ele, a única maneira de evitar a obesidade nas crianças é a prevenção através da mudança no estilo de vida familiar. “A família precisa ser o exemplo da criança na hora de se alimentar corretamente”. Outra grande aliada na luta contra as altas estatísticas de obesidade, segundo o médico, é a escola.
Isso porque, além de incentivar alimentação correta nas salas de aula, pode também disponibilizar alimentos saudáveis nas cantinas e incentivar brincadeiras que gaste energia física, longe de computadores e televisão. Mas o médico diz que não adianta impor para a criança um regime que não funcionará. “A família precisa mudar o estilo de vida, para depois querer mudar o da criança”.
Para a endocrinopediatra Ivana Cristina, a obesidade infantil pode ser evitada ainda no pré-natal. Segundo ela, a maioria das grávidas engorda de 20 a 30 quilos na gravidez. O aumento de peso, segundo ela, é conseqüência da alimentação inadequada. No seu consultório cerca de 70% das crianças e adolescentes estão obesos.