País perde 300 mil vagas

Jornal Diário da Manhã, 11/10/2007

País perde 300 mil vagas

Rodrigo Viana
rodrigoviana@dm.com.br
da editoria de economia

O projeto de lei 44, de 2007, que tramita no Senado, pode levar às ruas cerca de 300 mil estudantes que fazem estágios em empresas em todo o País. O cálculo é da Associação Brasileira de Estágio (Abres), que avalia, com regras mais rígidas, que os empresários acabarão optando por não investir em novos talentos. O documento seria votado em regime de urgência, mas foi retirado porque um dos senadores alegou ser o “pai da idéia”. O governo acatou e agora a matéria segue em tramitação menos prioritária. Embora a associação veja a regulamentação como um retrocesso, administradores e agências de estágio em Goiás consideram um passo importante. O número de contratações do tipo no Estado ultrapassa 10 mil.
De acordo com as novas regras, os empresários teriam mais responsabilidades com os estagiários. Atualmente, os estagiários possuem cargas horárias extensas que chegam a atrapalhar o horário de estudos, baixas remunerações e falta de direitos, como férias e vale-transporte. De acordo com o projeto que tramita no Senado, a carga horária do estudante não poderá ultrapassar mais que 30 horas semanais, ou seis horas diárias. Para os estudantes de nível médio, a carga cai para quatro horas diárias. Na proposta, a contratação, antes vigente só para empresas, agora poderá ser feita também por profissionais liberais registrados em conselhos. O ponto mais polêmico é a limitação do número de estágiário a 20% do número de funcionários.
“Não vejo que o empresariado goiano possa deixar de ter estagiários por conta de restrições no programa”, conta o coordenador de relacionamento do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), Marcelo Melo. “O trabalho que fazemos é mostrar aos empresários que os ganhos com a contratação de um estagiário são muito maiores que simplesmente o aspecto financeiro.”
Marcelo Melo considera as expectativas da Abres bastante pessimistas. “Ao mesmo tempo em que os maus empresários desistirão das vagas, os profissionais liberais absorverão o número de estudantes que desejam entrar para o mercado de trabalho. Será apenas um remanejamento”, afirma. Para ele, novas regulamentações são um passo importante, mas não o único. “O cenário de criação de oportunidades também deve ser discutido”, ressalta.
O estágio é um importante passo que auxilia numa melhor formação para universitários. A opinião é do estudante de História da Universidade Federal de Goiás (UFG) Victor Creti Bruizadelli. Ele é bolsista num programa de pesquisa da instituição. “Vejo a diferença entre quem encara o mercado e quem se preocupa só em estudar na própria sala de aula. O contato com a prática e, no meu caso, com o processo de pesquisa científica traz mais paixão para o aluno e auxilia na aprendizagem dos conteúdos”, ressalta o estagiário.