Ciência, tecnologia e as metas essenciais
Jornal O Popular, 12/10/2007
Ciência, tecnologia e as metas essenciais
José Clecildo Barreto Bezerra
Como traduzir a atual sociedade sem pensar em uma cultura que respeite a influência da Ciência & Tecnologia (C&T) no dia-a-dia das pessoas e no desenvolvimento de um país moderno? Os primeiros dias de outubro nos trazem reflexões sobre isto a partir das comemorações da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, com vários eventos científicos por todo o Brasil. Esta discussão nos remete à busca de três metas essenciais à modernidade: o conhecimento, a riqueza e a qualidade de vida. Parece simplório definir tudo em três ações, mas estas buscas são bem definidas por si só. Os setores acadêmicos, de pesquisa e de educação atuam com brilhantismo na elaboração de projetos geradores de conhecimento. Por sua vez, a questão da riqueza tem como principal referência o setor empresarial, onde são executados os processos de inovação e tecnologia que, no final, promovem a geração de renda ao cidadão. Nessa seqüência, a busca pela qualidade de vida tem como principal articulador o setor governamental, cujos projetos nem sempre estão alinhados com os setores do conhecimento e empresarial.
É interessante notar como mudam as expectativas da população. Em outros tempos, a pauta principal reivindicada durante um pleito eleitoral era fundamentalmente o desejo de ter coisas básicas, como asfalto e água tratada. Apesar de serem ainda necessários, percebemos hoje que o eleitor agregou valor ao seu voto. Além de desejar um hospital, ele quer que o mesmo esteja equipado para intervenções cirúrgicas e que faça diagnósticos precisos. Na educação superior busca-se a implantação de novas unidades universitárias, mas essas devem estar acompanhadas de profissionais qualificados e com um sistema moderno de conexões, principalmente por computadores e pela rede mundial, a internet, onde fluem as consultas bibliográficas, o conhecimento atualizado. Isto provoca a intimidade das instituições com o conhecimento e com as tecnologias mais modernas. Estão agregadas em seus pleitos as solicitações de sua própria inclusão social por meio da inclusão digital como caminho e acesso à empregabilidade. Sem ela não se trabalha em um caixa de supermercado ou numa bomba de gasolina.
O cenário brasileiro aponta para uma nova modelagem de exercício da Ciência e Tecnologia, também fundamentada nos três setores já citados: conhecimento, riqueza e qualidade de vida. Estes formam o conjunto do alardeado caminho da sustentabilidade. Os sinais manifestam-se nos próprios arranjos institucionais que vêm se desenhando. O Senado Federal, por exemplo, criou uma Comissão de C&T, acompanhando o que já ocorre na Câmara dos Deputados. Recentemente, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico conseguiu sua regulamentação com muitos recursos financeiros. Os Ministérios de C&T e de Desenvolvimento Industrial e Comércio Exterior estão voltados à questão do desenvolvimento em um trabalho de grande articulação e credibilidade com outros ministérios, como os da Saúde e da Educação, somando esforços em muitas áreas, transformados em conhecimento, riqueza e qualidade de vida.
Nos arcabouços institucionais e na mão (não na contra-mão) da história, cada vez mais os Estados brasileiros têm motivos de sobra para comemorar a Semana Nacional de C&T. Todos têm destinação de verbas e estruturas administrativas para a prática de políticas locais de C&T. O braço executivo da implementação dessas políticas de interlocução e captação de recurso tem sido a existência de fundações públicas de amparo à pesquisa, presentes em 23 Estados da Federação. A meta é criar um ambiente de busca do conhecimento e da inovação. Não temos mais como referência apenas a Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), que com seus R$ 800 milhões/ano vem alavancando o desenvolvimento daquele Estado. Também serve de exemplo o governo de Minas Gerais que, em 2006, injetou na Fapemig R$ 120 milhões e promete que serão R$ 160 milhões em 2007. Assim, também ações bem articuladas como as do governo do Ceará, que decidiu conceder 100% de bolsa a todos os doutorandos daquele Estado. Nossos vizinhos do Centro-Oeste vêm aplicando periodicamente em C&T. O Mato Grosso e Mato Grosso do Sul têm, entre muitos programas federais e estaduais, se consolidado com seus recursos periódicos em aplicação. O Distrito Federal partiu para a efetivação de um grande e disputado parque tecnológico empresarial.
Goiás se volta para a expectativa de futuro com a Fapeg: conseguir com planejamento e desenvolvimento manter-se nos rumos da modernidade e antever as tendências. O discurso em Goiás já se unificou pela frente de apoio à necessidade de investimentos públicos crescentes neste setor – Fieg, Faeg, Sebrae, universidades e empresários com objetivos inovadores. Chegou a vez de Goiás mostrar que empresas que partiram de uma idéia inovadora se tornaram grandes geradoras de emprego e renda, ou que de seus centros de educação vem sendo gerado conhecimento para a qualidade de vida e de riquezas para o País.
Outro grande tema em discussão no Brasil e que vislumbra grandes oportunidades para o Centro-Oeste é a diminuição do aquecimento global por meio da oferta de novas matrizes energéticas renováveis, como os biocombustíveis. Em conferência ministrada durante o 1º Encontro sobre Energias Renováveis do Centro-Oeste, o ex-ministro Antonio Delfim Netto enfatizou a importância dos biocombustíveis para o futuro. E fez um alerta: a matriz energética mais importante é a do investimento na pesquisa fundamental, na formação de novos pesquisadores para as universidades e empresas.
Podemos comemorar um início de trajetória para o País que, se der certo, vai gerar conhecimento, que produz riqueza, que gera qualidade de vida, e, de quebra, plantamos biocombustíveis para o mundo. Essa é a grande contribuição do Centro-Oeste na luta contra o aquecimento global, mas sem deixar de lado a responsabilidade pela preservação e ampliação do Bioma Cerrado.
José Clecildo Barreto Bezerra, doutor em Ciências Naturais pela Universidade de Hamburgo, Alemanha, é professor da UFG e diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg)