Alcoolismo precoce
Jornal Diário da Manhã, 12/10/2007
Alcoolismo precoce
Thatiane Rocha Abreu
thatianerocha@dm.com.br
Da editoria de Cidades
Durante três dias do IX Congresso Nacional de Pediatria que se encerra hoje, a família tem sido o principal referencial apontado pelos médicos como sendo o pilar da boa saúde dos filhos. Várias fórmulas químicas foram apontadas para as crianças perderem peso e conseguirem se livrar da hipertensão. Para todas as patologias, o dignóstico é o mesmo: envolvimento familiar. E não é diferente com os altos índices hoje de adolescentes que ingerem bebidas alcoólicas. Histórias como a do ator Macaulay Culkin, que aos 13 anos se envolveu em episódios de embriaguez, se repetem com vários adolescentes brasileiros.
O consumo de álcool começa cada vez mais cedo entre os adolescentes, e as conseqüências são graves. Pesquisa feita com universitários da Universidade Federal de Goiás sobre o consumo do álcool na adolescência coloca em evidência que alguma providência precisa ser tomada tanto pelas famílias como pelas escolas e governo.
De 732 adolescentes, com idade de até 20 anos, 91,9% já haviam experimentado bebida alcoólica, sendo que 14,5% afirmaram consumir álcool freqüentemente e 9,2% cerca de 20 dias por mês. Para a pesquisadora responsável pela pesquisa, a pediatra e professora da faculdade de Medicina da UFG Maria Helena Canuto, os índices batem com os números de jovens envolvidos principalmente em acidentes de trânsito, já que a maioria dos jovens que se envolvem em acidentes de trânsito estava embriagada.
Segundo a pesquisadora, cerca de 47% dos entrevistados disseram já ter tomado alta dose de bebidas e 2,6% deles já ficam embriagados cerca de 20 vezes ao mês. A maioria dos jovens relatou que costuma ingerir bebidas alcoólicas em casa e que muitas vezes seu primeiro contato com o álcool é por intermédio de algum familiar.
Proibição
De acordo com o estatuto da criança é proibida a venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos. Mas na pesquisa, cerca de 60,9% dos jovens conseguiram comprar bebidas alcoólicas, mesmo sendo menores de idade. Mais de 47,4% afirmaram que já sofreram conseqüências por causa da bebida, entre elas 15% disseram que já faltaram aulas e 11,6% já sofreram algum acidente de trânsito por causa do álcool
O dado que mais chamou a atenção da pesquisadora foi no tópico onde o entrevistado colocava a idade média em que havia consumido álcool pela primeira vez, em média entre 10 e 12 anos. Para Maria Helena, a idade de maior risco para uma criança experimentar o álcool é entre 14 e 16 anos, por ser uma idade onde o adolescente começa a andar em grupos e a definir sua personalidade e o que quer.
Na pesquisa foi constatado também que os adolescentes começam primeiramente a experimentar bebidas alcoólicas em festas de final de ano, como Natal e ano-novo, e depois começam a fazer uso de bebida em bares, danceterias e em festas de amigos. A especialista diz que o grande erro das famílias, escolas e da mídia é se preocupar só com os adolescentes que experimentam uma droga ilícita e não prestarem atenção nos que tenham consumido o álcool pela primeira vez.
Para ela, a melhor prevenção começa dentro de casa, e que cabe à família trabalhar na conscientização do adolescente sobre a gravidade de ingerir bebida alcoólica. O alto índice de adolescentes que consomem álcool é consequência dos padrões e modelos que eles recebem em suas casas. Como o jovem está na idade de formular esse poder, a propaganda da mídia também tem uma grande influência na hora do consumo de álcool. Hoje, 11,2% dos brasileiros são alcoólatras.