Menino morre em UTI improvisada

Jornal Diário da Manhã, 14/10/2007

Menino morre em UTI improvisada

Matheus Álvares Ribeiro
da Editoria de Cidades

O menino Mateus Andrade, 11, que estava internado no Hospital das Clínicas (HC) à espera de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), morreu na manhã de ontem, após uma semana sem conseguir vaga em nenhum hospital da cidade. Ele foi enterrado ontem à tarde no Cemitério Parque, no Setor Urias Magalhães.

Segundo o secretário municipal de Saúde, Paulo Rassi, a morte de Mateus não foi causada por negligência por parte do Hospital das Clínicas. “Eles fizeram o possível”, afirma. Para ele, o grande problema é a grande procura de pacientes de outros municípios e Estados pelos serviços médicos de Goiânia. “Mais de 60% dos leitos do municípios estão ocupados por pessoas de fora de Goiânia”, revela.

A Central de Regulação, órgão responsável pela distribuição das vagas em leitos hospitalares, confirmou que a solicitação de vaga para Mateus foi pedida na terça-feira. Segundo a central, os hospitais alegam que não dispõem de vaga de UTI para tratamento hematológico. O diretor do departamento de Controle e Avaliação da Central, Jefferson Leite da Silva, disse que o menino recebeu toda a assistência possível, inclusive improvisação de uma UTI para a criança. “O quadro era muito grave. Usamos medicação de última linha, mas ele não respondeu”, conta. Ele acredita que mesmo a internação de Mateus em UTI não seria suficiente para salvá-lo.

Mateus era portador de Anemia de Fanconi, tipo raro e grave de anemia de origem genética. A doença leva à morte cerca de 80% dos pacientes antes de estes completarem 40 anos e pode se manifestar em qualquer fase da vida da pessoa. Sabe-se que 90% dos doentes desenvolvem a anemia aplástica, ou aplasia medular, que reduz drasticamente a produção de glóbulos vermelhos e plaquetas. O tratamento requer um transplante de médula óssea, o mesmo tipo de terapia usada contra leucemia, e, como ela, requer um doador compatível.

A mãe do garoto, Maria Gilvaneide de Lima Andrade, 41, afirma que, desde janeiro, Mateus sofre com a doença. Ela afirma que, desde que foi internado, Mateus tomava doses de plaquetas e glóbulos vermelhos, além de ter entrado na fila de transplante, à espera de um doador compatível. O menino só foi apresentar os sintomas da doença recentemente. “O médico disse que ele pode ter entrado em contato com algum veneno que pode ter feito a doença se manifestar”, explica a mãe.

Apesar do pouco tempo de espera por uma UTI, o quadro de Mateus evoluiu rápido, a ponto de o menino não resistir à doença. Na quarta-feira, 10, ele teve uma parada cardíaca. Mesmo assim, o hospital não conseguiu disponibilizar um leito para a criança. “Foi o tempo suficiente para eu perder meu filho”, lamenta Maria.