Reuni: como aprimorar a proposta da UFG
Jornal O Popular, 17/10/2007
Reuni: como aprimorar a proposta da UFG
Tomás de Aquino Portes
Mais uma vez o governo está tentando implementar uma reforma nas universidades federais. Através do Decreto 6096, de 24 de abril de 2007, institui o Programa de Apoio a Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), cujo objetivo é reduzir a evasão e ampliar o número de vagas nas universidades, especialmente no período noturno. Desta vez o governo sugere que as universidades apresentem suas propostas, diferentemente de outras ocasiões em que as propostas já vinham prontas, de cima para baixo.
O governo deve ter percebido que as universidades, muito grandes em infra-estrutura, permanecem ociosas à noite, com poucos cursos noturnos. Com esses cursos, apenas com a contratação de pessoal, professores e técnicos-administrativos, é possível ampliar substancialmente o número de vagas, reduzindo a ociosidade nas universidades.
No Reuni, o governo acena com recursos financeiros – quem implementar vagas receberá mais. O MEC, como consta no decreto, “destinará ao Programa recursos financeiros, que serão reservados a cada universidade federal, na medida da elaboração e apresentação dos respectivos planos de reestruturação, a fim de suportar as despesas decorrentes das iniciativas propostas...”
A Universidade da Bahia e a Universidade de Brasília já fizeram as suas propostas que, por algumas peculiaridades, não foram totalmente aceitas pela Universidade Federal de Goiás (UFG).
A UFG propõe que os cursos já existentes continuem como são, inalterados, apenas com a possibilidade de aumento de vagas. Mas acata a possibilidade de criação dos Bacharelados em Grandes Áreas do Conhecimento (BGAs), com duração de três anos. O que complica, porém, é o que farão esses bacharéis. Poderiam dar aulas no primeiro e segundo graus. Outra opção seria fazer vestibular novamente e tentar um curso almejado. Mas, é muita perda de tempo!
A título de sugestão fizemos a seguinte proposta que visa aprimorar a da UFG:
1. os cursos atuais continuarão como são, aos quais candidatos concorrerão no vestibular como se faz tradicionalmente.
2. Nos cursos já existentes serão reservadas vagas (o quantitativo deve ser discutido, provavelmente entre 10 e 20%, dependendo do curso) para alunos que se destacarem nos BGAs.
Para aluno de BGA entrar em um curso, dentro da grande área escolhida, ele será avaliado ao longo dos três anos de duração do BGA, e terá uma nota média. Por outro lado, a cada curso será atribuída uma nota baseada no desempenho dos seus alunos. O aluno do BGA poderá entrar no curso pretendido desde que a sua nota média seja igual ou superior à nota média do curso, além de sua nota média situar-se dentro da faixa ajustada ao número de vagas oferecidas pelo curso pretendido (isto é, classificação por nota média obtida). A primeira avaliação ocorreria no final do primeiro ano ou do segundo semestre do aluno. Com esses critérios, os cursos serão expandidos por demanda. Cursos muito procurados, por mérito do aluno, serão expandidos, ampliando infra-estrutura e contratação de professores.
Os alunos que não conseguirem entrar em nenhum curso, terão ao final de três anos o diploma de bacharel, ou outro título qualquer, que se quiser dar a tal modalidade.
Um assunto passível de discussão seria: um aluno de qualquer grande área poderia, dependendo do seu aproveitamento, se deslocar para um curso de outra grande área (isto pode evitar evasão)?
Resultado: espera-se que os BGAs sejam uma alternativa aos alunos oriundos especialmente do ensino público do segundo grau, que não conseguiram êxito no vestibular aos cursos pretendidos, especialmente por não terem condições de freqüentar os cursinhos pré-vestibulares. Com esforço próprio, pela dedicação aos estudos no BGA, é possível ingressar no curso almejado. Espera-se, aqui, abolir as famigeradas cotas (como para negros, pobres, etc.), pois o vestibular para os BGAs será menos exigente que para os cursos já existentes.
Condição para implantação dos BGAs:
1. contratação de professores, com nível de graduação e mestrado, a maioria, para 20 horas, a estudar cada caso (não é necessário título de doutor). Os professores dos BGAs que demonstrarem interesse, dedicação e bom desempenho terão a oportunidade de ingressar como professores dos cursos profissionalizantes (carece discussão).
2. Contratação de técnicos-administrativos (secretários e auxiliares de laboratório, a maioria 20 horas, já que na UFG prevalece o contrato de 20 horas).
3. Infra-estrutura: para os cursos noturnos será aproveitada a infra-estrutura já existente. Para cursos diurnos, construção de novas instalações e aquisições de equipamentos.
Finalmente: caso a proposta logre êxito, expandem-se os BGAs, reduzindo-se gradualmente as vagas nos cursos por vestibular direto. O acesso aos cursos seria via BGAs. Caso não logre êxito, extinguem-se gradualmente os BGAs.
Tomás de Aquino Portes, doutor e professor, é vice-diretor do ICB/UFG – portes@icb.ufg.br