Moreira é tombada e vira memorial

Jornal Diário da Manhã, 24/10/2007

Moreira é tombada e vira memorial

Thatiane Rocha Abreu
Antonia de Castro
Da editoria de Cidades

O prefeito Iris Rezende deu ontem passo inicial para o reconhecimento histórico da moreira que sombreava o primeiro gabinete de Goiânia. Era sob as sombras da árvore plantada na Rua 24, número 580, no Centro, que o então interventor do Estado de Goiás, Pedro Ludovico Teixeira, despachava. Ali, ao som das máquinas e de trabalhadores que erguiam a nova Capital. E, como reconhecimento à simbologia do local, às vésperas do aniversário da cidade, Iris assinou ontem duas ordens de serviço: uma para preservação e outra para tombamento histórico da moreira pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Com a assinatura, o local onde está localizada a árvore será transformado futuramente no Memorial Pedro Ludovico Teixeira, onde será reconstruído um prédio de madeira, como o que existia na época que o fundador de Goiânia despachava documentos no início da história da cidade. Se a medida for aprovada pelo Iphan, a moreira será a primeira árvore do País a ser tombada.
A primeira ordem de serviço assinada pelo prefeito, explica o secretário de Governo, Jairo da Cunha Bastos, foi encaminhada em caráter emergencial à Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma) para que seja feita a recuperação da árvore. “A Amma passa a ter a responsabilidade porque a estrutura está comprometida em 50%”, avaliou.
A segunda ordem foi enviada para a Secretaria de Cultura, onde será confirmado o tombamento histórico por meio de reconhecimento do Iphan. O secretário explica que as ordens de serviço foram assinadas pelo prefeito como medidas de segurança para garantir a manutenção em tempo integral da árvore. Segundo ele, inicialmente foi cogitada a alternativa de desapropriação do terreno, mas os donos do local onde hoje funciona um estacionamento estão dispostos a colaborar com a prefeitura.
Em 2006, na tentativa de preservar a árvore, uma liminar suspendeu o processo administrativo para derrubar a moreira, concedida em abril daquele ano. Houve ainda a determinação da Justiça para que agentes da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) analisassem a viabilidade de tratamento e revitalização. Os técnicos ambientais tentaram formar mudas para garantir a perpetuação da centenária árvore, que está necrosada e cheia de cupins. Laudo pericial determinado pelo Ministério Público constatou que a árvore apresenta riscos de morte na ausência de cuidados. Entre as medidas sugeridas para a sobrevivência estão aplicação de cupincida sistêmico, limpeza das raízes e retirada da matéria orgânica, aplicação de vermicida e adubação do solo.
O presidente da Amma, Clarismino Júnior, disse que cuidados com a revitalização da árvore começaram ontem, com a presença de engenheiro no local, acompanhado por equipe que fez a aplicação de um fungicida e de adubo. A partir de segunda-feira será enviada uma equipe de engenheiros ao local e membros da Escola de Engenharia Agrônoma da Universidade Federal de Goiás (UFG). “Será colhido o material genético da árvore para ser feita uma clonagem.” Segundo ele, já existem mudas da árvore no viveiro da Amma, no Campus II na UFG.

Defesa
A delegada da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), Alba Célia, conta que começou a despertar seu interesse pela árvore quando leu em 2004 o artigo “A árvore da história”, escrito pelo editor-geral do jornal Diário da Manhã, jornalista Batista Custódio, publicado em maio de 2004.
Em 2006, ela entrou com o pedido de liminar no Ministério Público Estadual e Federal para impedir a derrubada, já que o dono do terreno havia solicitado alvará à prefeitura para derrubar a moreira, mas foi impedido a tempo.
De acordo com Alba Célia, a avaliação positiva do projeto de tombamento da moreira depende do material que será mostrado à equipe do Iphan. Por isso ela destaca a importância do encaminhamento de documentos como fotos, vídeos, comprovação de atividades culturais e do significado da árvore para os cidadãos goianienses. Ela apela para que quem tiver algum material histórico da árvore entre em contato com ela. “Pode ser fotos, documento e vídeos sobre a árvore”.
A delegada da CGT ficou feliz com a assinatura das duas ordens de serviço, mas pondera que precisa ser mobilizada uma luta pela desapropriação do terreno. “A moreira é o marco da construção de Goiânia”. Todo o acordo na luta pelo tombamento da árvore moreira está sendo promovido pela Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), o jornal Diário da Manhã e da ONG Guerreiros da Natureza.
O projeto de tombamento, de autoria do vereador Rusembergue Barbosa, determina que tanto a árvore quanto o terreno em que ela se encontra sejam registrados no Livro de Tombo do Município de Goiânia. Caso o projeto seja aprovado, ficará proibido e passíveis de punição qualquer corte, mutilação e atos que possam danificá-la.

Protesto
A luta pela vida da moreira começou quando o editor-geral do DM, Batista Custódio, divulgou o artigo intitulado “A árvore da história”, em maio de 2004.
Nos dias seguintes, setores da sociedade civil e líderes classistas se mobilizaram em defesa do patrimônio. Rusembergue já encaminhou ao prefeito de Goiânia o pedido de desapropriação do terreno. Após a aquisição do espaço, pretende-se construir um centro de visitação pública.