Triplicam casos antes dos 40
Jornal Diário da Manhã, 25/10/2007
Triplicam casos antes dos 40
Wanda Oliveira
wanda@dm.com.br
DA EDITORIA DE CIDADES
No auge ainda da idade balzaquiana, elas nem completaram 40 anos e são as novas vítimas de uma doença assustadora. O câncer de mama triplicou entre mulheres de 20 e 39 anos no País. De 1988 a 2003, as taxas da enfermidade nesta faixa etária saltaram de 5,6% para 16,8%. Mudanças de hábitos femininos, tabagismo e estresse são considerados os principais fatores desse aumento. Este tipo de câncer agora deixa de ser raridade e torna-se cada vez mais freqüente.
Os dados fazem parte de estudo divulgado esta semana pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM). A pesquisa foi realizada em todo o País. Durante o trabalho, 315 mulheres foram acompanhadas por especialistas da área. Atualmente, o fumo, o estresse e até mesmo o uso prolongado de anticoncepcionais estão entre as principais causas da alta incidência da doença em mulheres jovens.
O câncer de mama é bastante temido por elas em conseqüência da alta freqüência e pelos efeitos psicológicos, que afetam, em alguns casos, a própria imagem pessoal. Conforme a SBM, o novo perfil do câncer de mama preocupa porque os tumores em mulheres abaixo de 40 anos são, na maioria, agressivos e com chances de recorrência. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) informa que a doença era relativamente rara antes dos 35 anos, mas, acima desta faixa etária, a incidência torna-se rápida e progressiva.
Cerca de 12 mil mulheres morrem por ano no Brasil devido ao câncer de mama, informa a SBM. Em Goiás, as estatísticas confirmam a nacional. Embora o câncer de pele seja o mais incidente, o de mama é a principal causa de óbitos em mulheres. Em 2006, para cada grupo de 100 mil mulheres, a previsão do Inca era de que surgiriam 980 novos casos da enfermidade no Estado. Na Capital, 310 novos casos no ano passado.
Em Goiânia – divergindo dos dados mostrados pela SBM –, dados do Registro de Câncer com Base Populacional, em um total de 3.312 pacientes, mostram que a maior alta no número de casos de câncer de mama ocorreu na faixa etária de 40 a 59 anos. A elevação foi de 286%. Para cada grupo de 100 mil mulheres, surgiram 43 novos casos em 2003, em relação a 15 em 1998. Na faixa etária de 20 a 39 anos de idade, foram registrados sete novos casos de câncer mamário para cada grupo de 100 mil mulheres em 2003, enquanto, em 1988, eram apenas três. O aumento foi de 233% neste período. Na população acima de 60 anos de idade, o percentual chegou a 164%.
A estudante Alcynara Melo Inácio, 38, venceu o câncer de mama há mais de uma década. Aos 27 anos de idade, descobriu que tinha um tumor na mama direita. O câncer iniciou-se com uma glândula e só após exames específicos diagnosticaram um nódulo maligno. Três meses depois da preparação médica, submeteu-se à cirurgia. Ela conta que a maior parte da mama foi preservada. O tratamento durou um ano, com quimioterapia e radioterapia.
Segundo Alcynara, superar a doença não foi tarefa fácil. Diante da luta para vencer o câncer, aprendeu a ser mais forte que ele. “Hoje encaro com mais tranqüilidade a experiência que tive, principalmente do ponto de vista físico, mas o lado emocional ainda considero algo complexo, porque o problema continuará me preocupando.” No auge dos 27 anos de idade e com duas filhas na época, a estudante não imaginava que poderia ter, precocemente, câncer de mama. “Ninguém espera por um susto desses”, diz, embora admita que teve casos na família. “Minha avó e minha mãe tiveram a doença. Hoje, uma irmã enfrenta o mesmo problema.”
Cotidiano
Há uma série de fatores que aumentam os riscos de desenvolver o câncer de mama. Segundo o mastologista Ruffo de Freitas Júnior, coordenador do Programa de Mastologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), mudanças importantes no cotidiano das mulheres em decorrência do uso de terapias hormonais de maneira inadequada e por um longo período contribuem para o aumento da incidência deste tipo de metástase em mulheres de 40 a 59 anos de idade.
Hereditariedade, primeira menstruação antes do 12 anos, não ter filhos, nunca ter amamentado, menopausa após os 55 anos, álcool, estresse, alimentação inadequada com ingestão de gordura animal e pouca fibra e obesidade são outros fatores de risco do tumor. Ruffo diz que, geralmente, nódulos e secreções saindo pelo bico do peito são os principais sintomas da doença.
O mastologista Ruffo de Freitas Júnior, coordenador do Programa de Mastologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), explica que a maioria dos casos de câncer mamário evolui de maneira silenciosa porque o tumor produz uma enzima que age e impede reconhecer o seu crescimento pelas terminações nervosas sensitivas do organismo. Um dos fatores mais preocupantes para o tratamento da doença é o diagnóstico tardio. “Por isso, a necessidade da mulher realizar a sua mamografia após os 40 anos anualmente.” Apenas 23% das brasileiras submetem-se ao exame, informa a SBM.
A maioria das mulheres ignora, mas já existem tratamentos para todas as doenças malignas, e o câncer pode, em muitos casos, ser curado. Segundo a mastologista Deidimar Cássia Batista Abreu, diretora técnica do Sistema de Prevenção de Câncer da Associação de Combate ao Câncer no Estado, a cura depende do diagnóstico precoce. “Quanto maior o tumor menor a possibilidade de cura.” Afirma que o auto-exame e a mamografia são essenciais para detectar cedo a doença.
A médica diz que o ideal é que o câncer de mama não tenha nenhum sintoma ao diagnóstico. “Geralmente, quando tem algum sinal, o câncer de mama pode estar avançado.” De acordo com Deidimar, é importante que a mulher fique atenta a qualquer alteração na textura de suas mamas e verifique se sai algum líquido do mamilo.
Adverte que a mudança de estilo de vida da mulher aliada ao ritmo acelerado contribuem para o aumento de casos de câncer em jovens. Ela ressalta que a falta de tempo para as atividades físicas leva ao sedentarismo e à obesidade. Por causa desses fatores, surgem as doenças crônico-degenerativas, inclusive o câncer. Segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), se detectado em fase inicial, o câncer de mama tem 90% de chances de cura.