Soda cáustica em 19 marcas de leite em Goiás
Jornal Hoje, 25/10/2007
Soda cáustica em 19 marcas de leite em Goiás
Consumidor pega leite em supermercado: fraude também no UHT
Lídia Borges Novas análises de leite em Goiás feitas pela Superintendência de Proteção aos Direitos do Consumidor (Procon-GO) verificaram que o alimento produzido no Estado continua contaminado. Nas 19 marcas de leite pasteurizado tipo C (vendidos em saquinhos) e 18 do tipo integral UHT (o de caixinha) foram encontrados coliformes fecais, vestígios de soda cáustica e água oxigenada. Esta é a segunda análise, em menos de quatro meses, em que o Procon denuncia a fraude. Mas o assunto só tomou vulto após a Operação Ouro Branco, realizada pela Polícia Federal (PF) na última segunda-feira em Uberaba e Passos (MG), onde foi identificada quadrilha que adulterava leite longa vida para aumentar o prazo de validade e o volume do produto.
O superintendente do Procon, Antônio Carlos de Lima, comentou os dados preliminares das análises feitas no Centro de Pesquisas de Alimentos da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal de Goiás (UFG).
A partir de hoje, o órgão de Defesa do Consumidor vai autuar as empresas que apresentarem irregularidades e só no início da semana que vem divulgará os nomes das marcas. Lima diz que a responsabilidade pela fiscalização é das vigilâncias sanitárias estadual, municipal e federal (nos pontos de vendas), da Agência Goiana de Defesa Agropecuária (na produção do leite em Goiás) e do Ministério da Agricultura (na comercialização de um Estado para outro).
“Está faltando fiscalização! Da outra vez em que verificamos a contaminação, fizemos reuniões com os órgãos competentes, mas não tomaram providências”, ressalta. O superintendente avisa ainda que todos os relatórios serão enviados à PF, que fará uma coleta de amostras em todo o País. A denúncia também será encaminhada ao Ministério Público Estadual para que apure o motivo de os órgãos ainda não terem agido. “Cada exame que temos que fazer por causa das denúncias custam cerca de 150 reais. Se somarmos as 37 marcas que submetemos às análises, pode se ter a noção do prejuízo que é tirado do bolso do consumidor.”
Com base no Código de Defesa do Consumidor, o Procon vai aplicar multas nas empresas irregulares que podem chegar a R$ 3,1 milhões. “A multa tem que ser um valor que coíba a prática errada”, afirma o gerente de fiscalização do Procon-GO, Sebastião Natal. O gerente informa que já foram repassadas orientações aos Procons dos municípios próximos ao Estado de Minas para que monitorem o mercado local.
“Os produtos derivados do leite com procedência de Minas Gerais devem ser retirados de circulação.” Goiás produz hoje 2,6 milhões de litros de leite por ano, a segunda maior produção do País, perdendo justamente para Minas Gerais. O Ministério da Agricultura divulgou ontem uma nota em que afirma que “encontrar indícios de fraudes em duas cooperativas não significa que a qualidade de todo o leite produzido no Brasil esteja comprometida”.
IMPRÓPRIO AO CONSUMO
A investigação da PF em Minas Gerais culminou na interdição de duas cooperativas de leite: dos Produtores de Leite do Vale do Rio Grande (Copervale) e a Agropecuária do Sudoeste Mineiro (Casmil), que produziam juntas 400 mil litros de leite por dia. Na operação, foram presas 27 pessoas. Entre os produtos acrescentados pelas cooperativas, havia soda cáustica (hidróxido de sódio) em quantidade acima do permitido e de água oxigenada (peróxido de hidrogênio), o que torna o alimento impróprio para o consumo.
O presidente da Copervale, Luis Galberto Ribeiro Ferreira, já confirmou, em depoimento à polícia, a adição das substâncias. A dose letal de soda cáustica para um adulto é de 5 gramas. Dependendo da concentração e do volume ingerido, pode acarretar queimação nas áreas de contato, vômito com sangue, estreitamento do esôfago (disfagia), dificuldades respiratórias e até perfurações na mucosa intestinal. A água oxigenada pode gerar esofagite e gastrite.
O Procon já havia divulgado pesquisa em junho passado que reprovava 14 das 16 marcas analisadas de leite pasteurizado tipo C em saquinho. Além da presença de coliformes fecais e de água oxigenada, também foram verificados formol e baixos níveis de gordura e acidez comparados com o que são estabelecidos para o produto.