Jovem com leucemia se casa no hospital
Jornal O Popular, 26/10/2007
Jovem com leucemia se casa no hospital
Antônia Nunes Negreiros e Denivaldo Jovino da Silva realizaram desejo de oficializar união
Maria José Silva
Osalão de entrada do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Goiás (UFG) serviu como palco para a realização de um sonho cultivado por Antônia Nunes Negreiros. Aos 17 anos, a jovem casou-se com o agricultor Denivaldo Jovino da Silva, 31, com quem mantém um relacionamento afetivo há cerca de quatro anos. Mas por trás da história de amor e da cerimônia emocionante e inusitada há um episódio composto por dor e sofrimento. Há menos de um mês Antônia descobriu que está com leucemia mielóide aguda, um tipo de câncer grave, de causa ainda desconhecida pela medicina. Debilitada em função da doença, ela veio há 27 dias de Vila Clareana, povoado de São Félix do Xingu (PA), onde mora, para submeter-se ao tratamento em Goiânia.
O drama vivido por Antônia Negreiros teve início em meados de julho. A jovem, que sempre se mostrou saudável e cheia de vida, começou a apresentar sintomas que intrigaram a família. A mãe dela, a dona de casa Diomingas Nunes Negreiros, 57, conta que sem mais nem menos a filha passou a sentir fraqueza, cansaço e dor no pescoço. Além disso, começou a ter vômitos e a apresentar manchas na pele e intensa palidez. Preocupada, a família, com o apoio de Denivaldo Silva, levou a adolescente a um médico em São Félix do Xingu. Antônia submeteu-se a uma bateria de exames, mas nenhum deles constatou o problema. Ela permaneceu internada durante 20 dias e, nesse período, não apresentou nenhum tipo de melhora.
Desesperado com o estado de saúde da namorada, Denivaldo Silva retirou-a do hospital e levou-a para Tucumã, também no Pará, distante cerca de 50 quilômetros de São Félix do Xingu. O médico que atendeu a adolescente solicitou outros exames e, logo em seguida, suspeitou de leucemia. Mesmo sem condição, o agricultor fretou um avião particular e trouxe Antônia Negreiros para Goiânia. Ele tentou interná-la no Hospital Araújo Jorge, mas não conseguiu vaga pelo Sistema Único de Saúde. Orientado por servidor da unidade, foi até o HC, onde acabou conseguindo um leito em uma das enfermarias da unidade. Emocionado, ele conta que encontrou no HC amparo e solidariedade no momento que mais precisava.
Felicidade
Denivaldo Silva relata que o relacionamento com Antônia Negreiros sempre foi marcado pela compreensão e companheirismo. Há pouco mais de um ano, o casal decidiu viver junto na agrovila em São Félix do Xingu. Independentemente disso, os dois planejavam se casar, numa cerimônia simples, na cidade onde moram. “Tínhamos programado o casamento para dezembro, mas a doença alterou nossos planos”, relata o agricultor. Ao ser informado do diagnóstico pela equipe de Hemoterapia do HC e do risco de morte sofrido pela jovem, ele propôs a realização da cerimônia. “Eu disse para ela que se era para a gente ser feliz, deveríamos começar a partir de agora.”
Com a ajuda da Comissão de Assistência Espiritual do HC, grupo de voluntários que atua na unidade, Denivaldo Silva providenciou os preparativos para realização o casamento em apenas uma semana. Com o apoio de amigos, a equipe providenciou roupas, enfeites, doces e cerimonial. Vestida de noiva, Antônia Negreiros chamou a atenção na tarde de ontem de dezenas de pacientes, acompanhantes e profissionais que se aglomeraram no hall do HC. A cerimônia religiosa foi celebrada pelo frei Ednilson Vaz, da Paróquia São Francisco de Assis, no Setor Universitário.
Ao agricultor, Antônia Negreiros disse que se sentia a pessoa mais feliz do mundo. Apesar da gravidade da enfermidade, Denivaldo Silva relata que tem planos de a mulher se recuperar o mais rápido possível e ter os filhos há alguns anos planejados por ela. A jovem está sendo acompanhada no HC pela equipe coordenada pelo hematologista Renato Sampaio, da qual fazem parte os médicos residentes Ferdinando César Batista e Marcela Araújo.