Empresas autuadas por Leite adulterado

Jornal Hoje, 26/10/2007

Empresas autuadas por Leite adulterado

A família de Welington Carvalho, 7, está receosa com o leite

Wanessa Rodrigues

A Superintendência de Proteção aos Direitos do Consumidor (Procon-GO) começa hoje a autuar as empresas responsáveis pela distribuição das marcas de leite adulterado em Goiás. Foram encontrados coliformes fecais, vestígios de soda cáustica e água oxigenada em 18 amostras do produto. Das 19 marcas de leite pasteurizado tipo C (vendidos em saquinhos) analisadas, 12 foram reprovadas. E, das 24 verificadas do tipo integral UHT (o de caixinha), seis não estão em conformidade. O Procon só vai divulgar os nomes das fabricantes na segunda-feira. A análise foi realizada pelo Centro de Pesquisas de Alimentos da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Conforme o superintendente do Procon, Antônio Carlos Lima, cinco equipes de fiscalização vão entregar na Capital e no interior os autos de infração. Conforme o Código de Defesa do Consumidor, os laticínios irregulares podem ser multados em até R$ 3,1 milhões.

A partir da notificação, as empresas terão dez dias para apresentar a defesa ao órgão competente. Mas enquanto a situação não é esclarecida, a notícia de que o leite em Goiás está adulterado causa preocupação em consumidores.


Sem saber quais as marcas reprovadas, o autônomo Diócilo Carvalho Martins, de 35, continua a consumir o alimento, mas não esconde a preocupação. Principalmente porque os três filhos, Pedro Henrique, 1, Évelin, 8, e Welington, 7, bebem leite diariamente. São, no mínimo, dois litros por dia e, mesmo diante da possibilidade de ingerir o alimento contaminado, ele diz que não encontra outra alternativa. “Não tem como parar, eles (os filhos) já acordam pedindo leite. O de saquinho também está condenado e, trocar pelo leite em pó fica mais difícil. Tem que correr o risco”, ressalta.

O comerciante Alessandro Magno Teixeira, 40, salienta que, com o resultado da análise, o consumidor vai ficar perdido. Ele diz que, se de um lado as campanhas alertam para os perigos de se consumir leite que não seja pasteurizado (geralmente os que são vendidos de casa em casa), de outro não se pode confiar nos produtos industrializados. “A gente começa a pensar até que ponto compensa trocar o leite vendido na rua pelo industrializado”, observa.


FISCALIZAÇÃO
O superintendente do Procon estadual diz que a responsabilidade pela fiscalização dos produtos é das vigilâncias sanitárias estadual, municipal e federal (nos pontos de vendas), da Agência Goiana de Defesa Agropecuária (na produção do leite em Goiás) e do Ministério da Agricultura (na comercialização de um Estado para outro).

Procurados pela reportagem do HOJE, a Vigilância Sanitária Municipal, por meio da diretora Mirtes Barros, informa que o órgão não conhece as denúncias do Procon e que não foi comunicado dos fatos. Já a Vigilância Estadual esclarece que as informações das marcas adulteradas ainda não chegaram até o órgão, mas esclarece que o leite, assim como outros produtos dos supermercados, é monitorado com freqüência.


O Sindicato das Indústrias de Laticínios no Estado de Goiás (Sindileite), por meio do diretor executivo Alfredo Luiz Correia, informa que é a favor do processo de fiscalização, de análise e combate à adulteração, mas informa que só pode se pronunciar após tomar conhecimento das análises.

Da mesma forma, a gerência de comunicação da Agrodefesa declara que vai se pronunciar somente na segunda-fera pela manhã, quando apresentará relatório do trabalho de inspeção de leite realizado pelo órgão. O levantamento está sendo feito no departamento de inspeção e no laboratório.


ESCLARECIMENTO
O presidente da Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa de Goiás, deputado Doutor Valdir Bastos (PR), afirmou ontem que, se realmente for confirmada a adulteração do leite no Estado, o fato será devidamente investigado pela Casa. Os parlamentares também deverão solicitar coleta de amostras de leite para esclarecer se realmente o produto comercializado encontra-se adulterado.

DUAS MARCAS SÃO VETADAS EM GOIÁS E NO SUL


A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu hoje em todo o Brasil, por tempo indeterminado, a comercialização dos leites longa-vida envasados pela Parmalat no Rio Grande do Sul e em Goiás e pela Calu em Goiás.

A Anvisa coletou os produtos em Uberaba (MG) e constatou que eles continham substâncias proibidas. No entanto, não especificou quais eram as substâncias.

As interdições foram feitas pela Anvisa de forma cautelar. Todos foram produzidos em 2007. No caso da Parmalat, refere-se ao leite UHT integral envasado nas cidades de Carazinho (RS) em 22 de junho (vencimento em 20 e 22 de outubro) e Santa Helena de Goiás (GO) em 24 de junho (vencimento em 24 de outubro).

No caso da Calu, o produto interditado foi embalado em Itumbiara (GO) em 7 de julho (vencimento 17 de novembro), 26 de julho (vencimento em 26 de novembro) e 3 de agosto (vencimento em 3 de dezembro).

Esse resultado mostra que existem empresas fora de Minas Gerais que também comercializam leite adulterado. O caso veio à tona na segunda-feira, quando a Polícia Federal e o Ministério Público Federal deflagraram a Operação Ouro Branco. Cerca de 30 pessoas foram presas sob a acusação de adulterar leite integral longa-vida. (Agência Estado)