Denúncia contra leite afasta consumidores

Jornal Hoje, 28/10/2007

Denúncia contra leite afasta consumidores

Carla Lacerda

Um dia após a Superintendência de Proteção aos Direitos do Consumidor (Procon-GO) divulgar 17 marcas de leite contaminado, 14 produzidas no Estado, o mercado varejista teme queda de consumo do produto em até 40%. A previsão é do vice-presidente da Associação Goiana de Supermercados (Agos), Nangibe José Ribeiro. Segundo ele, a redução nas vendas deve durar pelo menos 20 dias, tempo que acredita ser o necessário para que os fornecedores autuados consigam se adequar às normas de qualidade.

Nos bairros periféricos de Goiânia e Região Metropolitana, pequenos comerciantes já estão preocupados com a redução do consumo do produto. Eles devem ter prejuízos consideráveis, já que normalmente vendem as marcas mais baratas, muitas delas reprovadas no teste realizado pelo Centro de Pesquisa em Alimentos da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás (UFG) e divulgado pelo Procon.

Gerente do Supermercado Rodrigues, localizado no Setor Rodoviário, Rodrigo Augusto espera um decréscimo de até 15% nas vendas de leite, um dos itens que mais têm saída em seu estabelecimento atualmente. Por dia, ele comercializa cerca de 15 unidades de caixinha e dez em saquinho. “Apesar de não ter nenhuma das marcas reprovadas, as vendas do produto, de um modo geral, vão ficar prejudicadas”, pontua.


No Jardim Nova Esperança, o gerente Flávio de Rezende diz só comercializar unidades de caixinha Compleite, que passaram no teste divulgado pelo Procon. “Mesmo assim, acho que a venda cai uns 40%.”

No Jardim Rosa Sul, em Aparecida de Goiânia, o proprietário da mercearia Nossa Senhora da Aparecida ficou sabendo pela reportagem da lista dos produtos contaminados. “Agora é procurar outras marcas.”


Alguns comerciantes, entretanto, estão céticos quanto ao resultado divulgado pelo Procon. “Eu não estou acreditando. Vou esperar o laudo definitivo que sai em 15 dias”, diz Edson da Silva Ferreira, proprietário de uma panificadora no Setor Rodoviário. Ele vende, em média, 60 unidades do produto, que incluem duas marcas barradas nas análises (Gogó e Capilat).

O laboratório da UFG analisou 43 marcas de leite, das quais 17 foram reprovadas. As principais irregularidades foram a adição de água para diluição do produto, excesso de acidez (que indica prazo de comercialização vencido), além da presença de coliformes fecais, água oxigenada e até soda cáustica. A lista completa pode ser conferida no site www.procon.go.gov.br.


Os órgãos responsáveis pela fiscalização do produto começam a apresentar balanço das atividades desenvolvidas na próxima semana.

ANVISA REBATE DADOS DO PROCON DE GOIÁS


O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Dirceu Raposo de Mello, rebateu ontem os dados divulgados pelo Procon de Goiás, dando conta de que 42% de marcas de leite longa vida e pasteurizado pesquisados pela Universidade Federal de Goiás (UFG) apresentavam irregularidades. Para Mello, os técnicos da Vigilância Sanitária de Goiás não confirmaram a informação. “Procurei logo os responsáveis pelo monitoramento goiano e eles disseram que não tem nenhum dado que justifique qualquer ameaça à população.”

O presidente da Anvisa fez questão de repetir que a responsabilidade do órgão que dirige começa apenas na gôndola do supermercado. “O Ministério da Agricultura é que fiscaliza a qualidade do produto desde a ordenha até chegar ao supermercado, passando pelos laticínios”, disse.


Ele também considerou como “meros registros policiais” a descoberta de fraudes no leite longa vida produzido em Minas Gerais. Para Mello, a quadrilha presa pela Polícia Federal, após a confirmação de adulteração do produto, é um problema particular e a situação não pode ser generalizada. (Da Agência Estado)

MP APURA ELO ENTRE GO E MG NAS FRAUDES


O Ministério Público (MP) em Minas Gerais investiga uma suposta conexão entre produtores mineiros e goianos nas fraudes detectadas em leite. Nos últimos dias, autoridades policiais e fiscalizadoras detectaram irregularidades no produto tanto em Minas como em Goiás. A investigação foi noticiada ontem pelo site Folha Online, que teve acesso a um documento da promotoria em que a Cooperativa Agropecuária do Sudoeste Mineiro (Casmil), de Passos (MG), sob suspeita de adulteração, aparece tendo adquirido a tecnologia das fraudes no leite do dono de um laticínio de Pires do Rio (GO), o Laticínio Búfalo. Ainda segundo a reportagem do site, a empresa goiana é suspeito de ter fornecido soro de queijo para a cooperativa mineira dar volume ao leite. O proprietário do laticínio goiano, Marcos Michiata, nega as suspeitas. “Sou fabricante de queijo e tenho nome a zelar.” (Da Redação)