Literatura ajuda no imaginário infantil

Jornal Hoje, 28/10/2007

Literatura ajuda no imaginário infantil

Wanessa Rodrigues

Era uma vez um menino de 8 anos que, encantado pelo universo criado por Sherlock Holmes, decidiu escrever seu próprio livro. Ele organizou as idéias e, em um prazo de um mês, concluiu sua primeira obra: Detetive Lucki Pouk em A Coroa da Rainha. Um suspense ambientado em um Brasil imaginário do século 19, onde o foco principal é o roubo da coroa de sua majestade e a atuação de um detetive novato. Ao final da narrativa, Lucki Pouk consegue desvendar o mistério, mas a história do jovem autor não acaba aí. Hoje, aos 10 anos, Guilherme Peternella França já escreve seu segundo livro: O fantasma do Ibirapuera.

O interessante é que o jovem escritor não conhece o Parque Ibirapuera, em São Paulo, mas coloca a imaginação para funcionar ao descrever o local como uma área gramada com árvores ao redor e cheia de “estradinhas”, como o Parque Vaca Brava, em Goiânia. Trabalhar o imaginário é uma das características que ele adquiriu com o hábito da leitura. Na data em que se comemora o Dia Nacional do Livro (amanhã), Guilherme é um exemplo de como a leitura é importante para a formação cultural e intelectual das pessoas. “Com a leitura, conheço novas palavras e ainda me divirto muito”, diz o garoto.

O gosto pelos livros surgiu logo cedo ao descobrir as obras de Sherlock Holmes, um dos escritores de suspense mais famosos do mundo. O que surpreende é que esse tipo de leitura geralmente agrada mais a adultos do que às crianças. Mas no caso de Guilherme, que está no 4º ano do ensino fundamental, foi diferente. Mesmo diante de palavras desconhecidas do vocabulário infantil, o garoto insiste em concluir a leitura das obras do autor inglês. E, quando sente dificuldade em entender o sentido das palavras, ele recorre ao pai, o juiz de Direito Carlos Alberto França.


Mas não é só de livros de suspense que o garoto gosta. Ele afirma que aprecia qualquer tipo de leitura, que passa pelas histórias em quadrinhos, jornais e outros temas literários. Atualmente ele divide seu tempo entre os estudos, as brincadeiras com o irmão Rafael, de 8 anos, e a leitura da obra Na Mira do Vampiro, de Thomas Brezina.

EXEMPLO

Carlos Alberto ressalta que, apesar de ter o exemplo dentro de casa sobre a importância de desenvolver a leitura, a vontade de ler e escrever partiu do próprio garoto. Quando a primeira aventura do detetive Lucki Pouk foi concluída, o magistrado e a esposa, a procuradora de Justiça Ana Cristina Ribeiro Peternella França, organizaram uma noite de autógrafos.

“Adquirir o hábito da leitura logo na infância é fundamental para o conhecimento. As vantagens são muitas. Quem lê conhece novas culturas, escreve bem e aguça a imaginação”, diz Carlos Alberto. O livro de Guilherme foi reconhecido pelo Ministério da Educação e Cultura, tendo um exemplar disponível na Biblioteca Nacional.

“ACESSO AO LIVRO TEM DE COMEÇAR BEM CEDO”


As crianças do Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Cecília Meirelles, no Setor Norte Ferroviário, aprendem desde cedo a importância da leitura. Há dois anos, foi implantado no CMEI o projeto “De mãos dadas com a Literatura”, uma parceria com a sociedade civil e o centro de educação. O objetivo é ampliar o processo de letramento das crianças e a formação cultural de todos, inclusive dos pais.

O responsável pela implantação do projeto no CMEI, o pedagogo Romilson Martins Siqueira, explica que, por meio do projeto, é realizado intercâmbio com a sociedade para que as crianças, todas entre 1 e 5 anos, adquiram o hábito da leitura e tenham o direito à educação de qualidade, que também se dá pelo contato com a literatura. Dentro desse aspecto, os alunos participaram de uma troca de conhecimento com os alunos do Colégio Santo Agostinho. Na ocasião, os estudantes da rede municipal receberam doações de livros, contaram e ouviram histórias.


Outra meta do projeto é a inclusão da família no processo educacional e na prática da leitura. Por isso, quinzenalmente, os alunos levam para casa uma sacolinha, confeccionada especialmente para ser usada no projeto, com dois livros: um de literatura infantil e outro voltado aos adultos. “Assim, os pais incentivam os filhos a ler e, mesmo tempo, são incentivados”, diz o pedagogo. De volta à escola, as crianças contam, em uma roda de conversa, a experiência adquirida com a leitura do final de semana.

“O hábito da leitura é fundamental, pois propicia voz e vez às pessoas e a ampliação do repertório oral. Além disso, possibilita uma melhor compreensão do mundo e mexe com o imaginário”, ressalta Romilson. O pedagogo, que faz doutorado em Educação pela Universidade Federal de Goiás (UFG), diz ainda que a leitura é um elemento agregador, já que o conhecimento adquirido pode ser compartilhado.


A diretora do CMEI, a pedagoga Ivânia Andrade Borges, diz que, além das atividades relacionadas ao projeto, os alunos vivenciam todos os dias outras práticas de leitura. Ela diz que todas as salas da escola possuem outros livros disponíveis. “Elas crescem com o gosto pela leitura”, observa.