Cana avança sobre Cerrado
Jornal O Popular, 29/10/2007
Cana avança sobre Cerrado
Estudo do Inpe mostra que novas plantações ocupam área equivalente a 7 mil estádios Serra Dourada. Licenças para desmatamento aumentaram 15 vezes em 6 anos
Vinicius Jorge Sassine
Imagens de satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e a explosão de licenças para desmatamento, expedidas pela Agência Ambiental de Goiás, não deixam dúvida: as plantações de cana-de-açúcar, que abastecem o emergente mercado de etanol, estão avançando sobre matas nativas de Cerrado. A expectativa de perda de vegetação nativa com o aumento do número de usinas de álcool – está prevista a instalação de 74 novas usinas no Estado – já é notada na prática, antes da conclusão dos principais investimentos. Pastagens degradadas constituem o principal espaço para as futuras plantações de cana, mas o Cerrado, mais uma vez, não escapa ileso de um novo ciclo da agricultura.
O discurso do setor sucroalcooleiro, do governo estadual (fonte de incentivos fiscais para a instalação de usinas) e do governo federal (que fez do etanol uma bandeira econômica e, ironicamente, ecológica) é de que a expansão da monocultura da cana-de-açúcar não terá impacto na biodiversidade do Cerrado. Desde a projeção nacional e internacional dos biocombustíveis, a partir principalmente do início deste ano, ambientalistas alertam sobre os riscos para os biomas brasileiros.
Em menos de três anos, de 2005 para 2007, a área plantada de cana em Goiás aumentou de 215,9 mil hectares para 328,2 mil hectares, um incremento de 52%. A expansão das safras de cana está sendo mapeada por satélites do Inpe, dentro do projeto Canasat.
Proporcionalmente, o aumento da área plantada em Goiás foi maior do que o registrado no Paraná, em Matro Grosso, em Mato Grosso do Sul e em São Paulo. Só foi inferior ao verificado em Minas Gerais (veja o quadro). Essas novas plantações equivalem às áreas de mais de 7 mil estádios do tamanho do Serra Dourada.
A reportagem do POPULAR cruzou dados do Laboratório de Processamento de Imagens (Lapig) da Universidade Federal de Goiás (UFG), que mostram as cidades onde houve desmatamento de vegetação nativa, com informações do Canasat sobre as cidades onde houve aumento da área plantada de cana-de-açúcar. Em seis municípios, foram notados desmatamento de 2004 para 2005 e expansão da safra a partir de 2005. A equipe que coordena o Canasat analisou imagens de satélite e constatou que as plantações de cana resultaram em desmatamento em pelo menos quatro cidades.
A perda de mata nativa de Cerrado tornou-se preocupante nos últimos seis anos, principalmente em 2006. Foram 4.225 solicitações de licença para desmatar, junto à Agência Ambiental, o que equivale a uma área de 555,4 mil hectares. Essa quantidade é quase 15 vezes maior do que os desmatamentos licenciados em 2000.