Área desmatada é ignorada
Jornal O Popular, 29/10/2007
Área desmatada é ignorada
Órgãos oficiais e pesquisadores têm apenas estimativas e reconhecem que dados existentes estão defasados
Vinicius Jorge Sassine
Os governos federal e estadual, os centros de pesquisa e as entidades de defesa e estudo ambiental desconhecem por completo o atual cenário de desmatamento do Cerrado. Não há um acompanhamento da perda de vegetação nativa, num momento em que a agricultura dá mostras de retomada no Centro-Oeste, ancorada na expansão da cana-de-açúcar. Milhares de hectares são desmatados, por meio de licenças ou clandestinamente, sem que isso se transforme em dados oficiais e instrumento de fiscalização.
Os dados mais precisos são de 2002. Os números oficiais, utilizados pelo Ministério do Meio Ambiente, estão defasados. Conforme esse mapeamento, apenas 35% da vegetação nativa de Cerrado mantêm-se intactos em Goiás. O levantamento não leva em conta, por exemplo, 1,38 milhão de hectares desmatados de 2003 a 2006, a partir de licenças da Agência Ambiental, o que equivale a mais de 4% da área do Estado.
O Laboratório de Processamento de Imagens (Lapig) da Universidade Federal de Goiás (UFG) fez um levantamento mais atualizado em 2004, mas o cenário não condiz com a atual realidade. “Os números anteriores ainda são muito grosseiros, e por isso precisamos trabalhar com dados globais”, afirma o professor Laerte Guimarães Ferreira, coordenador do Lapig.
A situação é preocupante, segundo o professor Laerte, em razão do histórico de ocupação do Cerrado: metade do bioma foi convertida em pastagens e plantações num prazo de 40 anos. “Essa nova fase da agricultura deve ser de equilíbrio ambiental.”
Amazônia
De acordo com o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Alfredo Pereira, responsável por monitoramentos do Cerrado, há a possibilidade de implantação de um sistema de acompanhamento anual do desmatamento no bioma, a exemplo do que ocorre na Amazônia. Ele estima um gasto anual de R$ 1 milhão a R$ 2 milhões para manter esse monitoramento.
Para estimar o desmatamento em Goiás, a Agência Ambiental se baseia nas licenças concedidas com essa finalidade. “O índice é muito maior”, reconhece o gestor de recursos naturais Alejandro Alvarado. Os últimos dados de satélite analisados são os mapas de 2002. “Não houve mais verba para comprar outras imagens.”