A vaca foi para o brejo
Jornal Diário da Manhã, 30/10/2007
A vaca foi para o brejo
Adevania Silveira
Da Editoria do DMRevista
Em terra de larga dedicação à pecuária, a notícia de que o número de vegetarianos cresceu parece conversa para boi dormir. Mas não é não. A estatística ao pé da letra não é conhecida, uma vez que até agora não há registro de nenhum estudo sobre o tema em Goiás, mas um bom termômetro é o aumento das visitas de recém-convertidos à dieta de restrição a carnes e derivados aos consultórios de nutrição. “Os pacientes chegam aqui em busca de orientação para montar o novo cardápio e para realizar exames”, afirma a nutricionista Edna Cunha Vieira, especialista em Nutrição Humana, professora substituta da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Goiás e há cinco anos ovo-lacto-vegetariana.
O crescimento do movimento vegetariano verificado especialmente em Goiânia tornou-se tão evidente que um grupo de profissionais coordenado pela professora Mara Reis Silva, da Faculdade de Nutrição da UFG, deu início a um projeto pioneiro em Goiás em que pretende traçar o perfil nutricional dos vegetarianos da Capital. “Estamos recrutando voluntários para analisar o perfil corporal, percentual de gordura, massa muscular e realizar exames bioquímicos”, enumera Edna, uma das colaboradoras do projeto (veja mais informações no Serviço).
No Brasil, as pesquisas sobre o segmento também são escassas. Em recente pesquisa do Instituto Ipsos, 28% da população declarou que “tem procurado comer menos carne”. Mas há outros fortes indícios que reforçam a afirmativa de que o vegetarianismo está ganhando mais adeptos e simpatizantes.
A Sociedade Vegetariana Brasileira, criada em 2003, já tem sócios em mais de 100 cidades espalhadas pelo País, com cerca de 20 grupos organizados em vários Estados. O número de integrantes nas listas de discussão sobre vegetarianismo dobrou de tamanho nos últimos dois anos. A Veg-Brasil, uma das mais dinâmicas, tem cerca de 2 mil pessoas trocando mensagens sobre vegetarianismo. O Sítio Vegetariano (www.vegetarianismo.com.br) recebe cerca de 3 mil visitas por dia e meio milhão de hits por mês. No Google aparecem aproximadamente 650 mil resultados para pesquisa com a palavra “vegetarianismo”.
Fora da internet, o mercado de consumo já vislumbra lucros neste setor, oferecendo itens que antes não eram encontrados e abordando no rótulo que são produtos sem ingredientes de origem animal e que não foram testados em animais. Há ainda o crescimento na oferta de alimentos orgânicos e naturais. As grandes redes de supermercados já dispõem de bancas com estas mercadorias e o que é mais sintomático: as duas maiores indústrias de carne no Brasil, Sadia e Perdigão, lançaram produtos vegetarianos.
Valores éticos
Se no passado as pessoas decidiam parar de comer carne por motivos de saúde ou religião, hoje, razões éticas, econômicas e ecológicas se incorporaram à lista. Nos anos 80, quando alguém manifestava o desejo de abster-se da carne, o médico dizia que tinha de comer e hoje, segundo defensores da dieta, não se pode dizer mais isso. Sites relacionados ao tema informam que a Associação Dietética Americana estudou o vegetarianismo e tem posição favorável sobre a dieta. A Organização Mundial da Saúde recomenda aos nutricionistas estimularem seus pacientes quando estes manifestarem o desejo de se tornar vegetarianos.
O respeito aos animais é uma das bandeiras defendidas por parte da comunidade vegetariana, especialmente os veganos – também definidos como vegetarianos puros ou estritos, por não consumirem nenhum produto de origem animal, alimentares e não-alimentares – que não concebem o homem como superior ao animal, do ponto de vista do direito à vida. Mas outro aspecto é a forma como os animais são confinados e mortos.
Os vegetarianos também gostam de lembrar algo que mesmo as autoridades envolvidas na defesa do planeta têm como assunto espinhoso: a criação de gado é uma das principais responsáveis pela derrubada das florestas, como ocorre na Amazônia. Grande parte das terras do mundo é destinada às pastagens, sem contar que a indústria da carne é uma das maiores contaminadoras da água doce do planeta. Segundo informa a Sociedade Vegetariana Brasileira, para alimentar todos os animais criados artificialmente são necessários espaço e enorme quantidade de grãos.
Recentemente, no show Live Earth, o ex-Beatle Paul McCartney, 68, fez coro com Madonna, Phil Collins e o grupo Duran Duran, para pedir à população mundial para que se torne vegetariana para deter o aquecimento global e suas conseqüências.